A educação sentimental
* Por
Evelyne Furtado
Minha abordagem é a de
quem se encanta com a escrita cuidadosa, fluente e atraente de Gustave
Flaubert.
Em A Educação
Sentimental Flaubert lança um olhar irônico, mas também afetuoso sobre sua vida
amorosa na França de Luis Felipe. O autor executou pesquisas exaustivas sobre o
período historicamente turbulento no qual se desenvolve o romance.
A segunda edição de A
Educação Sentimental traz trechos de cartas de Flaubert a amiga George Sand e a
outros amigos com vistas a tirar dúvidas sobre acontecimentos da época.
As barricadas, os
rumores socialistas e as mudanças de poder formam o pano de fundo para o amor
burguês de Frederique Moreau por Madame Arnoux, mulher casada e dedicada à
família.
Há um certo cinismo
(realismo?) no relato das atitudes ambíguas dos personagens, incluindo
Frédérique, uma evocação do próprio autor quando jovem.
O autor ri de si mesmo
ao relatar os tropeços de seu protagonista. O medo de concretizar o
relacionamento o paralisa. Frédérique ama na impossibilidade.
Entre Roem e Paris,
ele avança e recua, sob a regência, aparentemente sem intenção, da mulher
amada. A um simples olhar, um gesto apenas, Moreau fantasia e os devaneios
guiam seus passos.
Os pensamentos dos
personagens são narrados com fluidez; um raciocínio sobrepõe-se a outro com
rapidez; a paixão, sempre, ganhando da razão.
Notável é a delicadeza
com a qual o escritor descreve os encontros entre Frederique e Madame Arnoux
desde o primeiro, no barco, até o último, muitos anos depois.
O romance é um
clássico do realismo. É também o retrato que Flaubert, aos 56 anos, faz de sua
juventude concluindo que na luta entre os sonhos e a realidade escolheu "o
desprezo pelas tentações do mundo e o refúgio nas artes!"
*
Poetisa e cronista de Natal/RN.
A paixão e as suas impossibilidades.
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