Humanização do homem
* Por Pedro J.
Bondaczuk
A
obra inacabada dos grandes líderes de todos os tempos, aqueles que são
reconhecidos, universalmente, e que deixaram seus nomes inscritos na História
como referenciais, como paradigmas, como modelos de conduta, é a humanização do
homem. A chamada vida moderna – que em pouquíssimos anos será tida como arcaica
e causará acessos de riso nas futuras gerações – desvia as pessoas daquilo que
é essencial. E elas passam a ver (e a correr atrás de) simples miragens,
fantasias, ilusões, superfluidades. Quando percebem o erro em que incorreram
(se perceberem, é claro), já é tarde. São colhidas pela morte, que não manda
avisos. E tudo o que amaram e pelo que se sacrificaram se revela absolutamente
inútil, como de fato é.
Os
motivos fundamentais das nossas preocupações cotidianas – o acúmulo de bens, o
prestígio, o status e o poder, entre outros – não passam de ilusões. O que
conta mesmo, de verdade, é o ato de “viver”, de apreciar – sejam quais forem as
circunstâncias – esta maravilhosa aventura, que tem maior valor por ser única.
Nossa fortuna, acumulada seja por qual forma for, de nada nos valerá quando
morrermos. Todos sabemos disso, não há afirmação mais óbvia do que esta, mas
agimos como se não soubéssemos. Nosso prestígio, por mais sólido e
indestrutível que pareça, em geral não resiste a um punhado de anos ou mesmo a
uma superficial análise.
Das
dezenas de bilhões de pessoas que já viveram, desde o surgimento do homem na
Terra, apenas alguns milhares são lembrados, e, assim mesmo, eventualmente. Os
demais... O dramaturgo Berthold Brecht levanta a seguinte questão, em uma das
suas peças: “Quem construiu as sete torres de Tebas? Os livros estão cheios de
nomes de reis. Foram reis que arrastaram os blocos de pedra? Na noite em que a
Muralha da China foi concluída aonde foram os pedreiros?”. As grandes obras,
sejam de que natureza forem, portanto, não são garantias de imortalidade. Nada
é! As pequenas...? Não será criando barreiras de preconceitos, nem arrotando a
importância, que na verdade não se tem, e muito menos será pisando sobre os que
não tiveram ou não souberam aproveitar oportunidades, que se construirão as
bases para um cotidiano saudável.
A
insensatez do comportamento generalizado de desconfiança, de egoísmo e de
violência (da forma ostensiva à mais sutil, aquela que agride a dignidade do
semelhante mediante os mais simples atos ou, às vezes, um mero olhar) é a
responsável pela grande contradição dos nossos tempos: nunca o mundo teve
tantas pessoas (6,3 bilhões, conforme estimativas da ONU) e jamais os indivíduos
se sentiram tão solitários. Falta autenticidade nos relacionamentos, quer os
obrigatórios, ditados pelo convívio social, quer os de livre escolha, como o
amor ou a amizade. Agimos como se estivéssemos, o tempo todo, representando um
papel. E, se atentarmos bem, de fato estamos.
William
Somerset Maugham observou, a esse propósito, no romance “Catalina”: “Uma
comédia análoga às que vemos levada à cena nos palcos dos teatros é também
representada no palco do mundo. Todos nós somos atores de uma peça. A alguns
cabe-lhes em sorte o papel de reis ou prelados, a outros o de mercadores,
soldados ou agricultores, e cada um deve tratar de representar a parte que lhe
foi designada. Escolhê-las, porém, compete a um poder mais alto”. Só através da
autenticidade, da solidariedade e do amor, portanto, é que se poderá, um dia,
caso se comece hoje, agora, neste preciso instante, tentar empreender a grande
tarefa que nos compete executar: a de humanizar o homem!
(Capítulo do
livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 67 a 69, 1ª edição – 5 mil
exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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