Virtual à moda antiga
* Por
Ana Suzuki
Não esperei pela
internet para ter amigos virtuais. Cultivei-os através dos correios, de
telefonemas, de programas de rádio, de todos os meios disponíveis. Uma das
razões disso é que sempre tive coluna em jornal pequeno, de qualquer cidade em
que estivesse morando, de modo que meu nome se tornava familiar para pessoas de
todas as classes sociais, que me escreviam ou telefonavam repetidamente.
Veio também a fase do
rádio. Os locutores punham meus telefonemas no ar e os ouvintes me ofereciam
músicas, que eu ia retribuindo e cada vez conhecendo mais pessoas, com as quais
me habituava como se as conhecesse de fato.
E também trabalhei
numa agência de empregos. Patrões e patroas telefonavam para xingar-me pela
porcaria de empregados que eu lhes arranjava, mas acabavam estabelecendo
amizade comigo, porque eu não era dona ou fundadora nem professora de nenhuma
escola profissionalizante. Meu telefone virou um confessionário.
Enfim, de um modo ou
de outro, sempre tive amigos que só conheci pela letra ou pela voz, raramente
pela fotografia. Aqui em Campinas as coisas se tornaram um pouco mais
complicadas.
Eu tinha coluna no
maior jornal da cidade, porém um jornal grande não é lido em todos os seus
cadernos nem por todas as pessoas, de modo que me arranjei melhor em jornais de
língua japonesa, editados em São Paulo.
Esses jornais tinham
sempre uma página em português e era nessa página que eu dava aulas de haicai
para nisseis, promovia concursos e acabava arranjando amigos que, muitas vezes,
eu acabava conhecendo e cultivando na vida real, principalmente entre os
jornalistas.
*
Escritora e acadêmica da Academia Campinense de Letras.
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