Magritte "la magia nera"
* Por
Eduardo Oliveira Freire
- Oi!
- Oi! Quem é você?
- Não me reconhece?
Sou eu, a gente conversa constantemente na madrugada adentro em nossos sonhos.
- Como? Está
equivocado, senhor.
- Poxa, no sonho é
mais simpática. Não acredito que não se recorde de nossos papos sobre livros,
viagens e filmes...
- Senhor, se não parar
de me importunar, chamarei a polícia!
O homem a pegou pelo
braço e a mulher gritou por socorro. A polícia veio e ela deu queixa na
delegacia.
Quando foi dormir,
sonhou com uma mulher igual a ela: “Desculpa incomodar seu sono, mas o rapaz
que a abordou é um cara legal. Quando ele a viu, pela primeira vez, criou-me.
Mas, sou um ser com pensamentos próprios, não uma marionete. Gosto dele por
livre e espontânea vontade. Por favor, retire a queixa! Juro que conversarei
com ele e não vai mais incomodá-la!”.
A outra retirou a
queixa, mas não gostou de ter uma versão igual na cabeça de um estranho. Queria
ser a única e ficou tão agitada que não conseguia mais dormir. Resolveu ligar
para o homem que a incomodou em busca respostas. No início, ele ficou com medo,
mas, decidiu encontrá-la.
O homem lhe revelou o
que dialogavam e ela se interessou pela sua réplica que vivia na mente dele.
Começou a assimilar as características da outra e a medida que fazia isso, essa
desaparecia da cabeça do indivíduo que assustou no primeiro momento.
Com o passar do tempo,
tornaram-se amantes e a outra se acoplou nela, desaparecendo na cabeça dele.
A outra não lutou por
sua existência autônoma, chorou silenciosamente.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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