Além do módulo lunar
* Por
Clóvis Campêlo
No dia em que o homem
chegou à Lua, eu posei no seu coração.
Todos a chamavam de
Lenita e durante longos meses flertei com ela em silêncio, tímido e apaixonado.
Nunca imaginei que a
conquistaria um dia. Afinal, ela tinha namorado com os caras mais gabaritados
do udigrudi recifense, intelectuais e cineastas, e eu era apenas um rapaz
latino-americano que morava no subúrbio e gostava de jogar futebol e curtir a
praia.
Vimos tudo pela
televisão, em preto e branco (o homem na lua).
Depois a beijei na
escada do prédio onde morava. Na parede do corredor, havia uma guelra de
baleia. Ela foi a testemunha muda de tudo o que houve naquela noite.
Depois de beijos e
abraços, ela, completamente cínica e excitada, pediu para ir ao banheiro. Era
só um pretexto para tirar a calcinha.
Sentou-se no primeiro
vão da escada e deixou que eu acariciasse os seus pelos pubianos.
Respirava sofregamente
quando lhe alcancei o clitóris e introduzi os dedos na sua rubra vagina.
Gozou ali mesmo, nos
pés da escada, enquanto Armstrong enfiava o mastro da bandeira americana no
solo lunar.
Um grande passo para a
humanidade e eu cheirando os dedos atrevidos que havia invadido aquele espaço
precioso.
Naquela noite não
lavei às mãos ao chegar em casa. Aquele cheiro delicioso me perturbou por
várias horas. Só me acalmei depois do gozo solitário.
Aquela seção maravilhosa
se repetiria por muitas noites, até que um dia acabamos o namoro.
Depois, sempre que
passava por ali e a via na janela do apartamento, sorria de satisfação.
Ela também sorria,
acho que curtindo as mesmas lembranças.
Recife, 2008
* Poeta, jornalista e radialista.
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