Macarronada à brigadeiro
* Por
José Calvino
“Uma colher de sopa de
chocolate “dos padres” (os consumidores batizaram porque a embalagem reproduzia
um detalhe da tela do pintor Alessandro Sani, retratando dois monges católicos
sorridentes); uma lata de leite Moça (porque na embalagem havia a figura de uma
vendedora de leite, aliás que permanece até hoje); manteiga nas mãos para não
grudar; levar ao fogo em caçarola, sempre mexendo e retirar do fogo deixando
esfriar fazendo bolinhas e passando confeitos nas miçangas brancas e colocar
nas forminhas de papel”.
A receita de
brigadeiro acima encontrada no baú de lembranças de minha esposa Maura Correia
é, e sempre será, uma das paixões nacionais pelos doces, herdada dos portugueses.
Existem diversas versões, mas por que o nome do docinho é “Brigadeiro”?
Algumas pesquisas
apontam que: “O doce teria sido inventado no Rio Grande do Sul. Até hoje, lá é
o único Estado (sic) que ainda chama o brigadeiro de negrinho. O mesmo foi promovido
a brigadeiro em 1945, quando o militar e político Eduardo Gomes (1896-1981)
disputou com Eurico Gaspar Dutra a Presidência da República, sendo derrotado
nas votações. Voltou a disputar a presidência, em 1950, perdendo novamente a
eleição para o caudilho gaúcho Getúlio Vargas. No seu slogan eleitoral, dizia:
‘Vote no brigadeiro, que é bonito e solteiro’, mas, não obteve os votos
satisfatórios para a vitória, mesmo
tendo fascinado as brasileiras. As cariocas por exemplo, lideradas por uma jovem de nome Heloisa Nabuco, pertencente
a uma tradicional família do Rio de Janeiro, fez tudo para homenagear o amigo.
Elas faziam campanha política com os
‘negrinhos’, vendendo-os pelo nome de ‘brigadeiro’, em benefício do fundo de
campanha...”
Bem, caros leitores, vamos
deixar os deliciosos docinhos pra lá. A frase que dá o título a esta crônica é
óbvia, até porque me lembro bem dos meus velhos tempos de estudante (anos
50/60), quando os alunos e boêmios do Recife, no final das aulas e das farras,
pediam nos botecos a inesquecível Macarronada à Cavalo, servida no prato, com
um macarrão branco, tendo por cima dois ovos fritos e molho de tomate. Quando a
gente estava com pouco dinheiro, pedíamos a iguaria, com a diferença de que
naquela condição financeira o que vinha por cima do macarrão era apenas um ovo.
Os anarquistas e adversários políticos do brigadeiro Eduardo Gomes logo
arrumaram um jeito de parodiar a situação e diziam comparando que, em 1922,
durante a revolta dos 18 do Forte de Copacabana, um tiro havia atingido os seus
testículos, ficando o mesmo com um só ovo. Por isso a macarronada ficou
conhecida pelo nome: Macarronada à Brigadeiro.
* Escritor,
poeta e teatrólogo pernambucano.Vejam e sigam Fiteiro Cultural: Um blog cheio
de observações e reminiscências – http://josecalvino.blogspot.com/
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