Uma linguagem universal?
A Matemática seria, na concepção dos mais renomados cientistas
da atualidade, a única linguagem capaz de ser entendida por supostos (ou
eventuais?) seres extraterrestres que sejam tão inteligentes (ou provavelmente
mais) quanto o homem, caso, claro, existam. No entendimento dessas ilustres
cabeças pensantes, seria a única forma de estabelecer contato com esses tão
fantasiados “irmãos de criação” que, insisto, ninguém sabe se existem ou não.
Tanto isso é verdade que, a mais famosa tentativa humana de contatar supostos
ETs inteligentes foi feita em mensagem toda ela codificada em “bits” do sistema
binário. Ou seja, o mesmo código utilizado em nossos computadores. Portanto,
utilizando-se de linguagem matemática.
Refiro-me à chamada “mensagem de Arecibo”, transmitida em 16
de novembro de 1974. O sinal foi emitido para longe, muito longe, para o
agrupamento globular estelar codificado pelos astrônomos como M-13. Esse espaço
no cosmo possui cerca de 300 mil estrelas e fica na Constelação de Hércules. Os
cientistas acreditam que com tamanha quantidade de sóis, deva haver vários com
planetas habitados. E que em muitos deles, haja vida inteligente. E que em
algum (ou em alguns?) haja civilizações avançadas, capazes de receber a
mensagem, interpretá-la e enviar a resposta. O “texto”, codificado, consistiu
de 1.679 dígitos. A mensagem contém (pois ainda viaja no espaço), identificação
da Terra, sua posição no Sistema Solar, a representação do sistema binário, o
DNA humano e a identificação do radiotelescópio emissor, entre outras informações.
Ocorre que, se tudo isso der certo, se em alguma dessas
estrelas houver planeta habitado, e com habitantes inteligentes, e com
civilizações tecnologicamente avançadas, que recebam os sinais, os interpretem
e se disponham a responder, quando a resposta chegar à Terra, a probabilidade
quase certa é que esta não exista mais. Ou, caso ainda exista, esteja estéril,
sem nenhum tipo de vida. Sabem por que? Porque o aglomerado estelar, para onde
a mensagem foi enviada, fica a 25.000 anos-luz de nós. Ou seja, as ondas de
rádio, caso viajassem à velocidade da luz (e não viajam), levariam 25 mil anos
para serem recebidas por esta hipotética civilização. E a resposta, por conseqüência,
levaria o mesmo tanto para retornar ao nosso planeta.
Abstraindo o sentido nada prático da tentativa de contato,
quero destacar a fé dos cientistas na linguagem da Matemática. Ao contrário do
que se diz, amiúde, sobre a Filosofia, que seria “a mãe de todas as ciências”,
tenho uma tese diferente a respeito. A verdadeira matriz de todo o conhecimento
humano não é ela. É a abstração das abstrações. É o que o filósofo Roger Bacon
classificou como “a chave do portão da sabedoria e das ciências”. É a
Matemática. E por que afirmo isso com tamanha convicção? Porque está mais do
que provado, com provas inclusive arqueológicas, de que ela precedeu, e em
milênios, o “nascimento” da Filosofia. Sem a capacidade de abstração que a Matemática
forçou os homens a terem, não haveria nenhum princípio filosófico. E, sem
estes, inexistiriam as ciências, todas elas, como as conhecemos.
Não vejo, portanto, nenhuma impropriedade ou eventual
exagero em declarações como esta de Galileo Galilei Galileu, que disse que “a
Matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o universo”. E não foi apenas ele
que disse isso. Outros tantos filósofos, astrônomos e físicos disseram a mesma
coisa, mesmo que com outras palavras. Diferente do que afirmaram ilustres
pensadores que o antecederam, Pitágoras afirmou: “Deus não é um matemático. A Matemática
é que é Deus!”. Para Platão, conforme registrou no célebre diálogo de Timeu, “o
deus criador utilizou a Matemática para criar o Universo”. E arrematou: “Deus
sempre geometriza”. Para René Descartes, não foi o homem que inventou essa
nobre “ciência dos números”. Ele limitou-se a descobri-la. Afirmou, com todas
as letras: “Os seres humanos, claramente, apenas descobriram a Matemática”.
O “descobridor” de uma das quatro forças da natureza
conhecidas, a gravidade, Sir Isaac Newton, pensava, grosso modo, a mesma coisa.
Tanto que escreveu: “Deus criou tudo por número, peso e medida”. Ou seja, com o
recurso da Matemática. Muitos, muitíssimos anos antes dele, Euclides, o “pai da
geometria”, havia dito algo com o mesmíssimo teor. Recorde-se que ele viveu
entre os anos de 435 e 365 a.C. Esse ilustre mestre da Grécia Antiga afirmou,
literalmente: “As leis da natureza não são nada mais que os pensamentos matemáticos
de Deus”. Até o físico teórico britânico Paul Adrien Maurice Dirac, que se não
era ateu, tinha dúvidas sobre a existência de uma divindade criadora do
universo, escreveu: “Se existe um Deus, ele é um grande matemático”.
Como se vê, se não é consensual, pelo menos é generalizada a
“matematização” das ciências. Pudera! Não fosse a Matemática, estas não
existiriam. Não haveria como existirem. Por isso não estranho o fato dos
pesquisadores do SETI, sigla inglesa do projeto de busca por vida inteligente
fora da Terra, entenderem que, se houver uma linguagem universal, capaz de ser
entendida por eventuais alienígenas hiper-desenvolvidos, esta é a Matemática,
mais especificamente, o sistema binário, que ensejou a criação dos computadores.
Boa leitura!
O Editor.
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Que delicia de texto! Eu não consigo ter a abstração que a matemática exige. Como Deus é Matemática, permaneço no meu ceticismo, mas amando o que li aqui.
ResponderExcluirQue delicia de texto! Eu não consigo ter a abstração que a matemática exige. Como Deus é Matemática, permaneço no meu ceticismo, mas amando o que li aqui.
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