Fraquezas
que enternecem
As pessoas nos admiram por nossas virtudes, mas apenas nos
amam pelas nossas fraquezas. A afirmação foi feita (não exatamente com essas
palavras) pelo escritor William Somerset Maugham e reflete uma grande verdade.
Sequer seria preciso que o dissesse. Basta que fiquemos atentos ao que ocorre
conosco ou ao que se passa ao nosso redor para chegarmos à constatação. No caso
não se está referindo aos grandes defeitos, àqueles de caráter, de educação, de
personalidade, que transformam alguns em párias sociais que precisam ser
segregados do convívio com os semelhantes.
Mesmo aí a máxima funciona. Quem não ouviu falar (ou não
conhece algum caso) do chamado "amor bandido"? Vemo-lo a todo o
instante e em todo o lugar. Ou seja, a fascinação, a paixão, a autêntica obsessão
que algumas mulheres têm por pessoas que agem à margem das leis, cometendo
assaltos, seqüestros, assassinatos ou traficando drogas, entre outras coisas.
Mas referimo-nos às pequenas fraquezas. Aos lapsos de
memória, às manias inocentes que não prejudicam ninguém, às deficiências
físicas, às coisas que nos enfeiam e nos tornam infelizes. Para os que nos
cercam, mas não convivem conosco, é só nosso visual que aparece. Quando
encontramos alguém assim, fragilizado, nosso primeiro sentimento é o de piedade
(de dó, como se diz popularmente). Para o objeto da pena, quando esta é
mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e humilhante. O que indivíduos assim
esperam é reconhecimento por suas pequenas vitórias. Ou, na pior das hipóteses,
respeito ou não-interferência.
À medida que vamos convivendo com tais pessoas, esse
sentimento inicial de piedade, instintivo, transforma-se em ternura. Sobretudo
se elas não são agressivas e aceitam a nossa ajuda. Quando são agradáveis e de
fácil trato. Quando são alegres, amigáveis e abertas ao diálogo. Quando não têm
complexos, não alimentam amarguras e não agem com agressividade. Sentimo-nos
bem quando as ajudamos. E quando são do sexo oposto, na maioria das vezes nos
apaixonamos por elas.
O mencionado Maugham também afirmou: "A perfeição tem
um grave defeito: costuma ser sem graça". Isto, supondo que de fato
exista. As limitações humanas impedem que haja alguém perfeito. Temos, todos
nós, nossas virtudes e talentos. Alguns mais, outros menos. Mas da perfeição,
ao que se saiba, ninguém jamais sequer se aproximou. Alguns chegaram
relativamente perto. Outros ficaram a anos-luz de distância dela. Houvesse o
perfeito, as outras pessoas se aproximariam desse fenômeno apenas por
interesse, quando não para eliminá-lo. A perfeição permanentemente diante dos
nossos olhos só conseguiria ressaltar nossos defeitos. Não a toleraríamos.
Temos deficiências e imperfeições. Aldous Huxley, no livro
"Ronda Grotesca", dedica várias páginas a analisá-las. Escreve, em
determinado trecho: "Mas todo homem é ridículo quando visto de fora, sem
levar em conta o que lhe vai no espírito e no coração. Pode-se transformar
Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena inimitável, quando ele surpreende
sua adorada mãe em adultério. Pode-se tirar o mais gracioso conto de Maupassant
da vida de Cristo, fazendo contrastar as loucas pretensões do rabi com seu
lamentável destino. É uma questão de ponto-de-vista. Cada um de nós é uma farsa
ambulante e uma tragédia ambulante ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa
casca de banana e fratura o crânio, descreve contra o céu, ao cair, o arabesco
mais ricamente cômico".
É incompreensível haver indivíduos, razoavelmente educados e
com amplo acesso às informações, que querem ser sempre auto-suficientes, sem
que o sejam. Pessoas arrogantes, prepotentes, "donas da verdade", que
acham que o dinheiro compra todos e tudo (inclusive amor). Algumas são
criativas, nas ciências ou nas artes, e apesar da antipatia, mesmo que
secretamente, não podemos deixar de admirar sua competência e talento. Mas
amá-las?! Jamais! Sua arrogância e prepotência agem como repelentes, como
muralhas, como barreiras indevassáveis que as afastam do convívio normal. São
pessoas que, de tanto buscar ser superiores, só conseguem fazer um papel
ridículo. Infelizes é o que são.
Boa leitura!
O Editor.
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