Descobertas
e rebeldia
A adolescência é uma fase da vida caracterizada, entre
outras coisas, pela rebeldia. É a época da contestação aos princípios, e às
regras de comportamento, que foram estabelecidos (e que nos foram transmitidos)
pelos mais velhos. Em geral, os que transmitem esses valores (alguns válidos,
outros ultrapassados, superados pelo tempo) são os pais e/ou os mestres (de uns
tempos para cá, sobretudo, estes).
Muitos adolescentes, contudo, não têm esse privilégio, esse
adestramento para a vida, essa atenção aos seus desejos e aspirações. Tornam-se
adultos prematuramente, na marra, premidos pelas circunstâncias, diria pelas
carências de lares que, convenhamos, não merecem essa designação. São criados
ao Deus-dará, em superpovoadas favelas, ou em precárias vilas das periferias
das grandes cidades, expostos a todo o tipo de más-influências. Claro que isso
traz conseqüências, e não raro irreversíveis.
Quase sempre (embora não se trate de nenhuma espécie de
regra não escrita), esses rapazes e moças, amadurecidos precocemente, privados,
até, dos sonhos mais comezinhos, mas, sobretudo, de oportunidades, descambam para a marginalidade e para o
crime. É a chamada rebeldia sem causa. Ou melhor, tornam-se rebeldes com
motivos, sim, (até que sólidos), mas os ditados pela revolta, pela inveja dos
privilegiados e pelo rancor despertado pela injustiça social e pela exclusão a
que são submetidos.
Esses meninos e meninas de rua crescem privados de tudo,
principalmente de educação (no sentido lato do termo) até das normas mais
elementares de vida e de comportamento, inclusive dos princípios mínimos de
higiene. Poucos chegam à plena maturidade. Acabam mortos antes dos trinta anos.
Ou vão superlotar, em princípio, as Febens da vida e, posteriormente, as
cadeias e penitenciárias (autênticas “universidades do crime”) pelo País afora.
Ou reproduzem, nos descendentes, a única realidade que sempre conheceram: a do
ódio, do abandono e da violência. Claro que há exceções. Estas, todavia, são
raríssimas, e por isso, dignas de nota.
A adolescência é, sobretudo, um período de “explosão” dos
hormônios, muitas vezes em detrimento dos neurônios. Tratemos de outra
categoria de adolescentes, daqueles que, bem
ou mal, foram instruídos nas regras e valores sociais vigentes. Sua
rebeldia, se bem direcionada e compreendida, tende a ser positiva. Pode
resultar na criação de líderes, de revolucionários, de contestadores de usos e
costumes inadequados, posto que consolidados pelo tempo, e que podem conduzir
os povos a importantes avanços em termos de civilização.
Estes, igualmente, são raros. E nem eles estão a salvo dos
riscos causados pela imaturidade e dos perigos, sempre presentes, ditados pelas
más-influências. Experiências sexuais prematuras e inadequadas, por exemplo,
podem resultar em paternidade e maternidade precoces, quando não em doenças
sexualmente transmissíveis, entre as quais a ultimamente onipresente Aids. O
desejo de fuga da realidade, por outro lado, tende a expor esses adolescentes
ao alcoolismo e às drogas. E daí, para a marginalidade e o crime, é só um
passo.
Todos passamos por esse tipo de experiência, por esse
período de rebeldia, por essa fase de contestação (sobretudo da autoridade),
homens ou mulheres, não importa. Uns vivem essa etapa com mais intensidade (e
com maiores riscos, é claro). Outros atravessam-na com menos exposição,
dependendo do temperamento e da formação de cada um. É, porém, uma época
crítica da vida. É um momento de descobertas, de surpresas e/ou de decepções.
E, inegavelmente, é um período de formação ou, mais precisamente, de
consolidação da personalidade, daquilo que se convencionou chamar de
“caráter”.
André Maurois observou, em um de seus ensaios: “Em quase
toda a adolescência, os tempos mágicos e abrigados da infância são sucedidos,
com a descoberta da dureza da vida, por um período de rebeldia. É o primeiro
tempo da adolescência...O segundo é a descoberta, apesar das decepções,
maldades e dificuldades, da beleza da vida. Nos seres normais, essa descoberta
se realiza entre os dezoito e vinte anos. Ela produz, em sua maioria, os poetas
líricos”.
Embora seja cada vez mais difícil agir dessa maneira, temos
que induzir (com muito tato e sabedoria), o adolescente nessa direção. Ou seja,
na da descoberta da beleza da vida. Pode até ser (o que é mais provável), que não
se venham a produzir poetas líricos em profusão, como André Maurois afirma.
Mas, agindo assim, estaremos, certamente, fornecendo a essa pessoa um roteiro
seguro para uma descoberta fundamental: a da felicidade (que sempre é relativa)
e da alegria de viver. Será que isso não vale a pena?
Boa leitura!
O Editor.
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Sentir-se amado é um bom caminho para o jovem alcançar o que propõe, Pedro.
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