O poeta das
fraquezas
O escritor Thomas Stearns Eliot (que assinava seus poemas
como T. S. Eliot), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1948, é um dos
meus preferidos, entre os grandes poetas da literatura universal. Coloco-o, sem
pestanejar, ao lado de monstros sagrados, como William Shakespeare, Johann
Wolfgang Göethe, Victor Hugo, Manuel Bandeira, Charles Baudelaire, Mário
Quintana, Walt Whitman, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda, Rainier Marie
Rilke, Octavio Paz e Jorge Luís Borges, entre centenas de tantos outros, embora
de estilos e temáticas muito diferentes. Seus versos são profundos, humanos,
agudos, penetrantes, reveladores dos mais secretos recônditos da alma. São
imortais e inesquecíveis.
Tenho somente dois livros dele (infelizmente não conto com
recursos financeiros para adquirir tudo o que preciso e desejo!), que são dois
tesouros de beleza e grandiosidade, duas jóias de lirismo e sensibilidade, duas
preciosidades poéticas, duas dádivas divinas ao amante inveterado de poesia,
que li e reli inúmeras vezes, que consulto amiúde, dezenas de vezes por ano, e
sempre com a mesma empolgação e, (por que não confessar?), com a devida
veneração que devemos tributar aos grandes mestres.
Eliot, no entanto, foi um dos poetas mais controvertidos a
serem agraciados com o Nobel e por uma série de razões. Não que a sua obra seja
contestável e que, por isso, não tenha sido merecedora do prêmio. Pelo
contrário! Essa foi uma das premiações mais justas e mais esperadas já
atribuídas a qualquer escritor desde a criação dessa honraria, nem sempre dada
com justiça (Borges, Drummond, Bandeira, Jorge Amado e tantos outros integram
uma extensa galeria dos “esquecidos”) ao longo de praticamente um século de
existência.
O poeta, no entanto, foi o que podemos chamar de “brigão”.
Crítico literário dos mais ácidos (e verdadeiros, é mister destacar), despertou
a ira dos medíocres, dos vaidosos, dos que passam a vida a adorar o próprio
umbigo e, por isso, colecionou (como seria de se esperar) inimizades aos
montes, notadamente em sua terra natal, os Estados Unidos, onde nasceu em 1888.
Talvez por essa razão (não posso assegurar que seja, mas é
bastante provável), em 1927, aos 39 anos, emigrou para a Grã-Bretanha, país
cuja nacionalidade adotou, tornando-se, com indisfarçável orgulho, cidadão
britânico. E assumiu de tal forma a nova nacionalidade, manifestou tanta
satisfação pela nova cidadania, que muitos críticos sérios e bem informados até
chegaram a se esquecer que ele era norte-americano de nascimento.
Eliot era um poeta com refinada sensibilidade. Sua poesia,
intimista, tinha, como tema central, as fraquezas e contradições humanas. Mas
há tanto de verdade em seus versos, alguns pungentes e tristes, outros repletos
de condescendência e compaixão, que se tornaram clássicos universais. Exemplo?
Esta estrofe do poema “Os Homens Ocos”, traduzida por Bezerra de Freitas:
“Nós somos os homens ocos,
nós somos homens empalhados
apoiados uns aos outros,
a cabeça cheia de palha. Ai de nós!”.
E não somos, de fato, assim, apesar de toda a nossa empáfia
e a nossa monumental vaidade?! Em um de seus versos, constatou, com elegância e
precisão, que “o gênero humano não suporta a realidade”. E não suporta mesmo,
daí viver criando fantasias de todos os tipos para enganar-se a si mesmo.
Na Grã-Bretanha, que o acolheu de braços abertos, Eliot
tornou-se um dos escritores mais populares e mais lidos, com penetração nos
mais variados círculos culturais. Foi, durante muitos anos, diretor da
prestigiosa Biblioteca de Londres, cargo que ocupou até quase a sua morte,
ocorrida em 1965. Os principais livros desse genial poeta (como eu gostaria de
tê-los!), a maioria ainda não traduzida para o português (gostaria imensamente
de poder assumir esse desafio), são: “The Sacred Wood”, “The Waste Land”, “The
Use of Poetry and the Use of Criticism”, “After Strange Gods”, “Collected
Poems” e “Whats is a Classic”.
Seu verso, simultaneamente contundente e lírico (o que
parece ser impossível, mas ele o conseguiu, como o leitor pode constatar por si
só), a riqueza e variedade das imagens que criou e, sobretudo, a
condescendência (diríamos, a piedade) que mostra em relação às fraquezas
humanas (e ele destaca, antes de tudo, as dele mesmo), influenciaram toda uma
geração de excelentes poetas de língua inglesa.
O conjunto de uma obra magistral e única na literatura
mundial valeu-lhe, com a máxima justiça, aos 60 anos de idade, o reconhecimento
internacional, com a conquista do Prêmio Nobel de Literatura de 1948. Poderia
ter conquistado a honraria muito tempo antes, é verdade. Mas, como diz a
sabedoria popular, “antes tarde do que nunca”.
Para encerrar, não resisto à tentação de reproduzir os
magníficos versos com que Eliot encerra o poema “Os Homens Ocos”:
“Entre a concepção e a criação,
entre a emoção
e a resposta,
desce a sombra.
A vida é muito longa.
Entre o desejo
e o espasmo,
entre a força
e a existência,
desce a sombra.
Pois o reino é teu,
pois tua é a vida,
pois tua é...
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
Não com um estrondo,
mas com um gemido”.
Como se vê, é beleza pura!!!
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Convincente do começo ao fim.
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