Cárcere
* Por
Alberto Cohen
Os passos eram os
mesmos. Os espaços também. O ir e vir diário não era mais do que buscar o já
achado, um fazer de conta que algo ainda poderia surpreendê-lo: uma novidade,
uma emoção pequena que fosse.
A esperança há muito o
abandonara, apenas a representação íntima e teatral de esperar que, de repente,
surgisse um inusitado que lhe mudasse o desesperador corriqueiro de percorrer
os conhecidos metros quadrados.
Sabia que ele era seu
próprio cárcere, que um mundo imenso estava lá fora, mas onde a coragem de
descer e tentar integrar-se novamente na multidão, na vida? Quando muito ia à
sacada do apartamento e respirava como perdedor.
Sentia-se como alguém
que embarcasse num trem errado e não reconhecesse nenhum rosto, nenhuma estação
para desembarcar.
O pior, contudo, era a
aceitação passiva do imenso vazio que com ele habitava. Nada por fazer além de
comer, dormir e lembrar...
Os desejos se foram e
a ambição resumia-se ao contracheque no final do mês. O futuro, ora o futuro: pagamento
de contas, e encomendas à farmácia e ao supermercado. Nada de sonhos, nada de
imprevistos.
Sentou-se na velha
poltrona e fez que lia uma revista muito antiga.
O passado era agora!
*
Poeta paraense.
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