Família, crime e amor
* Por
Evelyne Furtado
É domingo e chove em
Natal. Em mim a preguiça alimenta-se desse tempo fechado e do som da chuva.
"Sair para almoçar, se acabei de tomar meu café da manhã caprichado?"
Não. Prefiro saborear a chuva e a deliciosa sensação que ela me traz. Não tenho
fome agora. Basta-me a chuva.
Dia perfeito para não
sair do quarto. Dormir, sonhar, assistir a um bom filme, terminar
"1808," o livro da vez, que é ótimo e recomendo para todos os
brasileiros que desconhecem a versão verdadeira da chegada da família Real ao
Brasil. Esse livro merece uma resenha e terá.
Por enquanto escrevo e
reflito. São tantos os assuntos sérios que merecem nossa atenção. Estive amando
além da conta e sofrendo em demasia. Olhar para o meu próprio umbigo me
alienou.
A indignação que
tomava conta de mim com as atitudes da classe dirigente passavam ao largo. E eu
que apontei tantas vezes o silêncio dos bons, como o fez Martin Luther King em
sua sábia frase, só chorava o coração partido, numa autopiedade deslavada.
De repente a menininha
assassinada me acordou. E eu que costumo fugir das páginas sangrentas, não
consigo deixar de acompanhar esse crime horrendo.
Primeiro torci para
que o assassino não fosse o pai. Seria mais uma falha nesse mundo onde já me
decepcionei tanto. Agora estou convencida de que foi a madrasta com a
cumplicidade do marido e pai da menininha. Desculpem-me o pré-julgamento.
Trata-se de uma opinião pessoal.
Não creio que tenha
sido intencional. Não acredito que quisessem matá-la. Não posso acreditar. Mas
o que me preocupa é em que está se transformando nossa sociedade.
A Veja traz uma
matéria com o psicanalista francês Charles Melman, colaborador de Lacan que me
assustou. Diz ele que o núcleo familiar está desaparecendo e que as
conseqüências são imprevisíveis. O caso Nardonis certamente é um indicio do
desastre da dissolução da família.
Arrepio-me! Não quero
viver em um mundo assim. A família não é só o ninho que prepara o filhote para
vida. Não somos animais. Os fundamentos familiares são os únicos a nos
protegerem até o fim da vida e assim deve continuar.
Divórcios e novos
casamentos não significam o fim da família. Mas a consciência de que somos nós,
pais, os responsáveis pelos nossos filhos enquanto estes forem indefesos,
defendendo-os, inclusive do novo cônjuge, deve ser cultuada.
Divaguei. Sou assim
mesmo. Comecei a escrever sobre o domingo chuvoso, preguiça e já estava
pensando no terceiro mandato que me horrorizou, mas passou. É demais!
Portanto, vou terminar
exaltando o amor, para variar. Em minha opinião o amor é a única vacina contra
os absurdos irracionais que estamos assistindo. Só o amor nos abre o coração
para os bons sentimentos e nos imuniza contra os males do individualismo.
27 de abril de 2008
*
Poetisa e cronista de Natal/RN
Será que o amor tem jeito, ou ele também está impregnado de desamor?
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