Devaneios de uma roqueira 20
* Por
Fernando Yanmar Narciso*
CAPÍTULO 2 (PARTE 3/3)
Ulysses dirige igual
ao Ace Ventura, com a cabeça pra fora da janela pois apesar de viver investindo
nesse carro, os pára-brisas já estão trincados há mais de ano. A cabine da
jamanta sempre teve esse perfume peculiar de bagulho. Nunca perguntei ao Uli de
onde vem o skunk que tanto fuma, mas o cheiro da erva dele é incrível! Nem a
famosa ‘maconha da lata’ que apareceu em Ipanema na década de 80 devia ter um
cheiro tão doce.
Please, não me
julguem, ‘nunca’ pus um baseado na boca- Yeah, right...- mas toda vez que subo
na bumba do Ulysses é como se o filme Yellow Submarine corresse diante de meus
olhos. Preferiria se ele dirigisse um pouco mais rápido, mas parece que ele
‘tava’ até curtindo dirigir ouvindo Bob Marley comigo encostada em seu ombro,
apesar de ele ser mais fã da Bárbara.
Uli entrou no
restaurante do posto me carregando no colo como se fôssemos recém-casados-
Valha-me, Kurt Cobain!- e lá estava minha prima lavando a louça e cantarolando
alguma coisa da Adele ou do Jefferson Airplane, I dunno, minha mente já havia
se despedido desse mundo há muito tempo pra prestar atenção.
Quem diz que já viu de
tudo no mundo precisa ouvir a Barbie cantando enquanto trabalha ou toma banho.
Desafia a lógica e a ciência: Ela fuma uns trocentos cigarros por dia, se
amarra num gole e tem uma voz de querubim desde que atingiu a puberdade. Imaginem
as vozes de Dorothy Moskowitz, Debbie Harry, Meg White e Fernanda Takai saindo
juntas da mesma pessoa! Pure Magic!
- Opa! Não acredito,
um cliente!
- Falaí, Barbie!
- Aaaaah, é só ‘ocê’,
vagabundo! Tava até achando que Deus tinha me mandado um presente... Quê que
foi, sô? Se perdeu no caminho de volta pra Jamaica?
Conhecendo Ulysses tão
bem como eu e Barbie o conhecemos, sei que é capaz de fazer qualquer coisa só
pra passar uns cinco segundos babando por minha prima, apesar de ela nunca ter
ido com a cara dele. Aliás, nem com a dele e nem com a de nenhum outro homem.
Mas ele não tá nem aí pras provocações dela, au contraire, quanto mais minha
prima tripudia, mais ele lambe o chão que ela pisa. Como diz o ditado, ‘vivo
arranhado, mas não largo minha gata’. (Risos)
- Não, nada não,
Barbie... Só trouxe a Lexi aqui, que desmaiou no meu colo saindo do trabalho.
- Nossa!
- E do jeito que a
barriga dela roncou no caminho, parece que ela vai esvaziar a dispensa toda
sozinha. Me ajuda aqui a subir com ela pro quarto.
- Vem comigo, prima.
‘Brigada’, Ulysses.
- Rastafáris sempre
alerta, meninas. Âhn... Tem problema se eu passar a noite aqui no
estacionamento? Tô enfiado nuns rolos lá na cidade e...
Enquanto os dois me
arrastavam escada acima, Uli não conseguiu resistir e ‘discretamente’ deu uma
apalpada no bumbum da Bárbara. Malandrão! O estalo do tapa no nariz dele ardeu
até em mim!
- ÊPA! Nem nessa
situação ‘ocê’ deixa a mão boba de lado, vagabundo?
Eles enfiaram meu
corpo derretido, com roupa e tudo, embaixo do chuveiro e me deram um banho
forçado. Ou os dois usaram até bucha de Bombril pra me lavar ou o monstro das
minhas costas reagiu muito mal à água morna, porque aquele banho doeu pacas!
Depois desci pro restaurante e devo ter comido um saco de arroz quase inteiro,
porque o estômago pesou tanto que quase desmaiei debruçada na mesa.
Adentrei a noite nos
braços de Morfeu e Kurt Cobain como manda meu costume: Palhetando minha velha e
querida Schecter verde-oliva e com o headphone nos ouvidos, usando os esgares
furiosos de Rob Tyner e seu MC5 como minha canção de ninar. Apesar dos
contratempos de noites atrás, diria que foi uma segunda-feira vitoriosa, até
meu Kurt deve ter duvidado que eu conseguisse transcendê-la, mesmo estando tão
alquebrada!
My gang, a gente se vê
amanhã!
Alexia, sua não tão
confiável narradora.
*
Escritor e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com
Conheçam
meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer
Nenhuma palavra é forte o suficiente para Aléxia se expressar.
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