Obituário
* Por Rodrigo
Ramazzini
É com muita lástima que noticio o
falecimento do nosso grande amigo João de Almeida. Um amado amigo e que sempre
será lembrado pelos seus memoráveis porres, suas impagáveis “costuradas de
pernas” no meio da rua, assim como suas vomitadas em espaços públicos.
Onde tu estiveres, João, saibas que
contigo aprendemos muito, desde como trapacear em um jogo de canastra, bem como
burlar a declaração de imposto de renda sem cair na malha fina (Até hoje
ninguém entendeu a origem desse teu conhecimento, mas fora útil). Assim que virmos
novamente um “rabo-de-saia”, logo lembraremos da tua habilidade em “xavecar”
todas as mulheres que de nós se aproximavam. Não me estenderei neste assunto,
pois daqui sairiam as tuas melhores histórias, em respeito à dor da viúva.
Nós, teus eternos amigos, estamos
triste com a tua perda, mas tenho certeza que a boa parte da população que hoje
comemora tal acontecimento, é porque não entendia o modo sarcástico que tu
levavas a vida. Deprimidos mesmo estão os teus credores, tendo em vista o grau
de endividamento e a não perspectiva de recebimento.
Chamá-lo-emos, a partir de então, de
Santo João, pois da terra te despediste, e como em nós mortais o bem sempre
supera o mal na hora da morte, terás o julgo de bom homem. Um milagre
ambulante, que aparecia nas horas impróprias, seja nas grandes festas
familiares, bem como em um simples almoço de domingo, sempre (claro!) sem ser
convidado. Santo, também, por teres morrido lutando, pois não te entregaste em
nenhum momento. Fora a covardia do galo Tyson, que te apunhalara pelas costas,
acertando a tua cabeça enquanto retirava o seu já derrotado adversário, que lhe
tiraste a vida. Bem que nós te avisamos Santo João, que trabalhar como
“separador” de briga de galo, naquela ilegal rinha, onde aves brutalmente se
digladiavam, não era, ainda mais para ti, homem não acostumado ao exercício de
uma profissão, bom lugar para começares uma carreira.
É com sincera saudade que recordaremos
da tua santa pessoa, quando alguém contar, pela milésima vez, a mesma piada
envolta da mesa de sinuca. Proferiremos: – O João está entre nós! E pediremos
que Deus o conserve, pois se tiveres partido para o inferno, logo, logo o Diabo
mandará devolver.
Expressados os mais nobres sentimentos
dos que te cercavam, finalizo aqui o obituário, não por falta de assunto sobre
o João, que daria com certeza um livro com centenas de páginas, mas, sim, por
falta de espaço no Jornal. Que Deus nos abençoe!
Dos teus estimados amigos.
Trim! trim! prim! Trim! trim! prim!
- Alô. Redação, boa tarde! João, João!
Ô, cara! Tudo bem? Desculpa a franqueza, mas falaram-me que tu tinhas morrido.
Ah! Foi o João Almeida. E não o João de Almeida. Velho, te matei! Pior tu não
sabes, já estava até escrevendo o teu obituário para pôr no jornal. Só iria
fechar a edição e partiria para o teu velório. Sei, sei! Foi o Bilú que me
avisou. Aquele baixinho sacana. O quê? Quer ver o obituário? Não, não,
expressei muito forte os meus sentimentos de amizade, e é bem capaz que tu
interpretes de outra maneira... Não! Vamos deixar assim... É! Vamos celebrar a
vida e torcer para que Deus nos dê saúde para vivermos muitas novas histórias
juntos... Claro que tu és como um irmão para mim... Claro que sim!
*
Jornalista e contista gaúcho.
Original, por ser, até aqui, praticamente o único morto a receber com justiça os devidos adjetivos. E que Deus não o tenha.
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