No caminho certo
* Por
Merval Pereira
A primeira diferença
marcante foi a presença do próprio presidente Michel Temer, ao lado do ministro
da Fazenda Henrique Meirelles, a anunciar as medidas econômicas que serão a
base do programa de governo para retomar o crescimento. Todos lembram-se do
isolamento do então ministro da Fazenda Joaquim Levy assumindo um programa de
reajuste fiscal sem a presença da presidente Dilma.
A mensagem imediata é
a de que Temer está empenhado em seu governo de transição com a reorganização
das contas públicas, emprestando ao ministro da Fazenda seu apoio público.
Dilma, ao contrário, não acreditava no que Levy propunha, e não quis colocar-se
como fiadora das reformas dolorosas, mas necessárias. A partir daí, a base de
apoio no Congresso passou a agir por conta própria, já que a presidente não se
comprometia com o que estava sendo defendido por Levy.
A segunda diferença,
também fundamental, foi que as medidas, ou pelo menos a sua direção, foram
debatidas com as lideranças no Congresso antes de anunciadas. E o próprio
presidente fez questão de levar ao Congresso a nova meta fiscal, um buraco
gigantesco e realista de R$ 170 bilhões, num gesto simbólico de respeito.
Outra diferença básica
é a direção apontada, embora as medidas para viabilizá-la ainda não tenham sido
anunciadas. Meirelles retomou a idéia que um dia a então ministra Chefe do
Gabinete Civil Dilma Rousseff considerou “rudimentar”. Apresentada pelo
ministro da Fazenda Antonio Palocci, com o apoio do ministro do Planejamento
Paulo Bernardo, a proposta era limitar o aumento dos gastos públicos, tomando
por base o crescimento do PIB. Os gastos não poderiam aumentar mais que o PIB.
A então ministra Dilma
não apenas rejeitou a proposta como acrescentou que “gasto é vida” Deu no que
deu. Como explicou Meirelles ontem, de 1997 a 2015, isto é, nos governos
Fernando Henrique, Lula Dilma, essas despesas saltaram de 14% do PIB para 19%.
Um aumento médio anual de 0,3% do PIB, em torno de 200% real.
Como se vê, a intenção
de manter os gastos sem aumento real parece uma tarefa impossível diante do
hábito que se instalou no país nos últimos governos. Em tese, Meirelles depende
de a economia crescer muito, para conseguir cortar os gastos sem provocar uma
carnificina.
Como estamos em
depressão, com a economia caindo cada vez mais, e a inflação está alta, a
proposta pode resultar em nenhum corte. O curioso é que Meirelles diz que o
país só voltar a crescer se os empresários acreditarem que vai cortar gastos.
Além disso, será preciso acabar com os gastos obrigatórios como a verba
separada para a saúde e a educação, para que o governo possa remanejar os gastos
em várias áreas.
Uma reforma da
Previdência, anunciada, mas ainda em negociação, ajudaria a conter o aumento
dos gastos, pois essa é uma situação típica de gasto que aumenta
automaticamente à medida que mais pessoas usufruem dos benefícios. E nessa proposta
está implícito o fim da vinculação do salário mínimo, o que provocará muita
discussão.
Enfim, falta muito
para que se tenha uma idéia de como o governo vai conseguir conduzir as contas
públicas para o equilíbrio perdido, mas a intenção anunciada já é um bom
caminho, que busca a maior eficiência do Estado e o aumento da produtividade.
O Globo, 25/05/2016
*
Jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras.
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