Mais educação através da dança
* Por
Mara Narciso
“A
gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” (Titãs)
Diante de iniquidades,
patifarias e crueldades vindas de todos os lados, a falta de serenidade é a
regra. Quando a tensão atinge níveis recordes, impregnando o corpo e a alma,
por reações surgem fobias, depressões, síndromes do pânico. As vivências
atuais, repletas de tecnologia libertam do trabalho pesado, mas aprisionam em
vícios digitais intermináveis, na obesidade causada pelos hábitos sedentários e
pelos equívocos da indústria alimentícia. Eis que surgem soluções através da
prática esportiva, religiosa e musical. Há contentamento ao se notar que jovens
estão trilhando caminhos do bem.
Quando tanto o
discurso quanto o exemplo sofrem dissolução pela força do mal, quando cumprir a
lei soa como uma aberração e os argumentos parecem fincados em areia fofa,
educar exige estratégias convincentes. A arte é um desses caminhos, e sem ela
seríamos seres toscos, monstros primitivos de alma dura. Quando temos comida e
morada, queremos a arte, para nos curar as feridas.
O Colégio Sólido de
Montes Claros organiza há sete anos o Festival de Quadrilhas com concursos no
ensino fundamental e médio. Neste ano o evento se deu no Parque de Exposições
João Alencar Athayde, exigindo uma megaestrutura, pois aconteceu das 15 às 23
horas. Foi seguido todo o aparato de segurança exigido por lei quando se trata
de menores, com isolamento da área do circuito com placas de metal, com todas
as saídas marcadas por seguranças, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, SAMU,
palco, som, decoração junina, iluminação, área de alimentação, banheiros, boate
com luz estroboscópica e arena de quadrilhas. Bom público, sem atropelo e a
organização seguindo o cronograma com pequenos espaços de espera, os jovens
circularam despreocupados, em meio a barraquinhas, comidas típicas e forró.
Após o concurso, shows sertanejos animaram a garotada na área principal.
Pôde-se ver como os
jovens atuam com graça e alegria quando são compreendidos e orientados pela
escola e pelos pais, rendendo boa performance. Uma mesa de jurados analisava
itens como coreografia, evolução, figurino, animação, criatividade, conjunto e
animador. As quadrilhas seguiam um roteiro teatral e comandos comuns a todas.
Na manutenção da tradição junina, os grupos tinham o casal de noivos e o
animador dizia coisas de um antigo Francês, transformadas em balancê, anavan,
retournê, tour, cumprimentê, travessê, sangê, carrossel, grande passeio, aos
seus lugares, trocar de dama, o túnel, caminho da roça, caracol, a grande roda,
coroar damas, olha a ponte, olha a chuva, já passou, olha a cobra, é mentira,
olha o pai da noiva, cefini, retirê. Além da empolgante alegria, houve espaço
para teatro e protestos sociais a favor do amor e contra o preconceito e a
destruição do Rio São Francisco.
Os jovens mostraram
sua capacidade de criar e executar suas criações, com variada trilha musical,
figurino a propósito, representações teatrais e sua energia habitual. A disputa
dessa dança entre oito grupos maiores motivou os estudantes a sair da frente da
tela, a se desinibir, cantar e dançar, querendo ser melhor naquela
apresentação, e por conseqüência, no saber e na vida. O equilíbrio entre as
quadrilhas resultou em empate no primeiro lugar entre os Piratas do Sertão e
Xadrez (uma superprodução), em segundo Federal Arriba Saia e em terceiro Arraiá
da Meia. Dançar ajuda a suplantar as tragédias nossas de todos os dias. Então,
que venham mais quadrilhas. De danças.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
O final deixa bem claro: "De danças". Porque aquelas outras, que nos fazem dançar - queiramos ou não - já estamos todos fartos. Abraços, Mara.
ResponderExcluirCansados de tantos espertos, Marcelo. Queremos dançar de alegria.
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