Cálculos acadêmicos
* Por
Marcelo Sguassábia
Trabalhemos com
números conservadores, para termos uma expectativa mais realista. O aluno chega
para um curso de quatro anos. São cerca de duzentos dias letivos por ano, vezes
quatro dá oitocentos. Se, nesses oitocentos dias, ele comer no intervalo uma coxinha
da cantina (provavelmente vai comer mais, pois já chega para a aula com fome),
junto com um refrigerante, temos aí de oitocentas a mil e seiscentas coxinhas e
mais a mesma quantidade de refris no decorrer da graduação.
Vamos para as máquinas
de venda automática. Em cada uma das alas principais do prédio, contamos com
máquinas de preservativos, de snacks e de chocolates. Nossos repositores de
estoques apontam para uma média de 32 camisinhas consumidas ao ano per capita,
o que dá 128 escapulidas entre uma aula e outra para as urgências da carne.
Lembrando que essa conta é por cabeça, independente de ser homem ou mulher. Os
snacks e chocolates vendem bem mais, até porque depois do bem-bom bate mesmo
aquela fome. Sem contar que os consumidores dos petiscos podem não ser
necessariamente os praticantes de sexo, basta que sintam vontade de comer no
intervalo entre uma coxinha da cantina e outra.
Os números mais
impressionantes vêm dos nossos serviços de fotocópias. Incluindo o montante
gasto no TCC, estima-se que cada graduando levará para sua república ou
pensionato uma montanha de 18.000 cópias ao longo do curso. Praticamente todas
elas tiradas nos serviços de xerox da própria faculdade, a um lucro projetado
de 600% por folha.
Esse Monte Everest de
papel não caberia no quartinho do aluno se fosse acumulado todo lá. Mas
acontece que boa parte disso acaba voltando aqui para a Universidade, na forma
de trabalhos solicitados pelos professores. São milhares de toneladas de
sulfite que a Universidade revende como reciclável e se transforma em receita.
Expressiva receita.
As pesquisas de campo,
as excursões para simpósios, palestras, semanas de estudos, ciclos de debates e
o que mais aparecer como atividade de complementação acadêmica extra-muros tem
toda a sua logística movimentada pela Universidade - do transporte à hospedagem
dos participantes. Desnecessário dizer que essa desgastante operacionalização
não é conduzida gratuitamente por jesuítas, e nem é penitência missionária. A
Instituição cobra bem e fatura horrores com isso.
A fonte de lucros
prossegue em patamares elevados e constantes no decorrer dos semestres letivos,
até a formatura. É quando toda a parafernália de buffets, conjuntos musicais,
cerimoniais diversos, viagens comemorativas, álbuns de fotografias e DVDs de
festas e colações de grau são oferecidos aos formandos por valores extorsivos,
embutidos neles as comissões da Universidade. Não havendo o repasse de pelo
menos 25% para a Instituição, as propostas são barradas e nem chegam ao
conhecimento dos alunos.
Tendo em vista o acima
exposto, concluímos ser economicamente viável o "Programa Faculdade Grátis
- Seu diploma com mensalidade zero e sem vestibular". Será a consagração
definitiva da nossa marca no disputado mercado educacional.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Nem imagino de onde saíram seus números, Marcelo, mas pareceram-me razoáveis.
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