A fuga
* Por
Conceição Pazzola
Abriu a porta devagar
e o vento da noite penetrou nos seus poros, quase o fazendo retroceder, voltar
para a cama quentinha e esquecer tudo. Há dias martelava o juízo imaginando a
hora da decisão. Não havia mais lugar para o arrependimento.
Estava cansado de
discussões que não levavam a nada. Segurou a alça da mala já pronta aos seus
pés, fechou a porta de mansinho e saiu pelo corredor. Àquela hora da madrugada,
nem viv’alma. Chamou o elevador sem olhar para trás, quando chegou arrastou a
mala e apertou o térreo.
Subitamente, o
elevador parou entre um andar e outro. Que fazer? Os minutos passaram,
transformaram-se em horas e nada aconteceu. Suando em bicas, apertou o alarme
na esperança de que alguém com insônia ouvisse, mas nada aconteceu. Sem ter o
que fazer, resignou-se; deitou no chão e ali adormeceu.
Não sabe quantas horas
dormiu. De repente, a porta do elevador abriu e uma mulher entrou. Ao vê-lo
estirado no chão, julgou que estivesse morto e se pôs a gritar. Em breve,
acudiu gente de toda parte, e segurando a porta do elevador o suspenderam nos
braços na intenção de socorrê-lo, sem lhe dar tempo de explicar-se o puseram
num táxi e o levaram para o hospital mais próximo.
Cada vez mais
irritado, viu os enfermeiros acudirem e o carregarem numa maca para o
internamento. Gritou que estava bem, estivera apenas dormindo no elevador que
se quebrara desde a madrugada. O médico que o atendeu balançou a cabeça e disse
que haviam errado de endereço. Aquele homem, referindo-se a ele, precisava ser
internado com urgência num manicômio.
Sem esperar que os
bondosos vizinhos obedecessem ao médico, ele correu para a porta do hospital
apavorado, atravessou a rua e desapareceu dentro do metrô.
*
Poetisa e contista
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