Violência onipresente
A violência, nas suas
várias formas de manifestação, é a maior realidade e, certamente, o maior dos
males que afligem o ser humano. Está presente em praticamente toda a nossa
vida, sutil ou ostensivamente, quer a física, quer a psicológica, mental e até
moral. Nascemos com esse estigma. Desenvolvemo-la em nosso processo de
desenvolvimento. Somos, em algum momento, ou vítimas dela, ou seus agentes.
Nossa própria existência é conservada mediante seu recurso.
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Alimentamo-nos, por
exemplo, de seres que foram vivos (animais e vegetais). Portanto, para que uns
sobrevivam, é necessário que outros pereçam. A sobrevivência é, pois,
permanente luta, não apenas no sentido figurado que, via de regra, lhe
emprestamos, mas no literal. A vida é e sempre foi violenta.
Nenhum animal se
alimenta, por exemplo, de pedra, de terra ou de qualquer outro mineral (embora
minerais também componham nossa dieta). Necessita eliminar outro ser vivo para
se manter. Nesse aspecto, os vegetais nos são “superiores”. Afinal, prescindem
da morte de outros seres para subsistirem.
Por causa dessa
realidade, o tema onipresente em literatura é a violência em todas as suas
variadas formas de manifestação. Raros são os textos em que ela não está
presente, ou de forma ostensiva, ou apenas sugerida.
Até nos escritos
religiosos ela aparece (ou para ser condenada, ou, então, como ameaça aos que
infringirem normas de boa conduta que as religiões pregam. Afinal, o que vem a
ser o tal do “castigo eterno” para os ímpios se não uma das formas mais cruéis
e definitivas de violência?).
Estas considerações
vêm a propósito de um gentil e muito bem-escrito e-mail do leitor José de
Andrade, em que me pergunta se não acho que os escritores atuais fazem apologia
da violência. Embora alguns, de fato, abusem, em linhas gerais, acho que eles
não são diferentes dos seus colegas de outras épocas. Afinal, como destaquei no
início destas considerações, essa é provavelmente a mais dura e cruel das
realidades da vida. O tema, portanto, parece-me óbvio.
Ademais, não vejo
nenhum escritor “defendendo” a violência, pelo contrário. Em geral, os
“vilões”, violentos por excelência, sempre acabam se dando mal no final das
histórias, o que deixa ao leitor a mensagem implícita que não se deve recorrer
à força e à prepotência para se dar bem em sociedade.
Reitero, todavia, que
alguns, de fato, exageram na dose. Mas não se trata da maioria. Veja só, as
religiões, que pregam a concórdia, o amor e a solidariedade, são, através da
história, pretextos para atos sumamente violentos. Num passado não tão remoto,
eram comuns sacrifícios humanos, para “aplacar a ira dos deuses”. E quem eram
os sacrificados? Quase sempre pessoas indefesas, como mulheres e crianças,
imoladas à sua revelia nos altares.
Por outro lado, nem
preciso lembrar o sem-número de guerras, no passado e em tempos muitos
recentes, travadas tendo por pano de fundo as religiões. Por mais criativos que
sejam os escritores, portanto, eles ficam milhões de anos-luz distantes da
crueldade da realidade, quando se pensa em violência. Claro que, até por
formação, prefiro temas mais amenos, como o amor, a bondade e o espírito de
cooperação entre pessoas e povos. Nós, porém, que lidamos com idéias, não temos
o direito de contribuir para a alienação de ninguém. E a violência,
desgraçadamente, reitero, é a grande realidade da vida.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O ódio manifestado pela violência vigora em todas as mentes como agentes causadoras ou como vítimas, tal você bem falou. Não há como escapar deles.
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