Qual
sucesso?
Todas as pessoas, não importa quais as atividades que
exerçam, buscam o sucesso em seus empreendimentos. Ninguém, nem mesmo o
masoquista dos masoquistas, o sujeito com ínfima auto-estima, que adora ser
humilhado (e há mais pessoas assim do que o leitor possa supor) se empenha para
ser fracassado. E nem precisaria se empenhar. O fracasso é sempre uma
possibilidade na vida do sujeito que seja um primor de competência. O diabo é que o sucesso, essa palavrinha tão desejável, é bastante
ambígua. Cada qual a interpreta de determinada maneira e quase nunca há
consenso a propósito.
O que você classifica de “sucesso”? Ganhar bastante dinheiro
com o que faz? Conquistar prestígio, fama, glória? Ser tido como o “melhor” na
sua atividade? Tudo isso pode ser considerado, e é, sucesso para uns, mas nem tanto, para outros,
que querem mais, muito mais.
E em literatura, o que é ser bem-sucedido? Produzir
best-sellers após best-sellers e se habilitar ao Prêmio Nobel? Ser badalado
pela imprensa e conquistar títulos e mais títulos? Ser admitido na Academia
Brasileira de Letras e receber “n” convites para palestras e conferências, no
Brasil e no Exterior? Ou se superar, em qualidade, de um livro para outro,
produzindo, em conjunto, uma obra consistente, preciosa e imortal?
Depende de cada escritor. Uns almejam, claro, fazer muito
dinheiro com o seu talento. A imensa maioria – a menos que se trate de um Paulo
Coelho ou de um Jorge Amado, campeoníssimos de vendas – se frustra neste
aspecto. Quanto ao Nobel... Quantos brasileiros já o conquistaram? Nenhum!
Absolutamente nenhum!
A badalação pela imprensa, por seu turno, é efêmera e
passageira. Em três tempos, o escritor da moda é substituído por outro, que
talvez nem seja tão bom e este por um terceiro e assim sucessivamente. Logo,
cai-se no ostracismo e não raro não se é mencionado jamais por jornais e
revistas.
Esse tipo de sucesso é como fumaça. Você não consegue
retê-la e, mesmo que conseguisse, logo ela se perderia irremediavelmente no ar.
Eu, da minha parte, não escrevo para ser bem-sucedido. Se o for, estarei no
lucro. Caso contrário... não me frustrarei.
O português João Tordo tem uma opinião bastante peculiar a
respeito, com a qual compartilho plenamente. Extraí este trecho, de um texto
dele, do excelente sítio “O Citador”, de Portugal: “O sucesso é para os
políticos. Os escritores vivem sempre na medida exata do seu fracasso que,
romance após romance, se torna mais notório e cada vez mais difícil, cada vez é
mais pessoal. O sucesso completo significaria que era inútil escrever mais
livros”.
Está vendo a encrenca em que você se meteu, caríssimo
escritor, escolhendo esta estafante (mas fascinante) atividade? Você acha que,
quando Machado de Assis (ou Balzac, Dostoievski, Tolstoi etc.) escrevia estava
pensando em quantos livros venderia, quais prêmios conquistaria, ou a qual
academia seria guindado (e ele não poderia ser a nenhuma do País, pois a
primeira, por aqui, foi fundada justamente por ele)?
Claro que não! A cada novo livro, buscava superar, em
qualidade o anterior. Por isso foi bem-sucedido. Por não se preocupar com o
sucesso. Mas rico, o nosso querido Machadão não ficou. Por isso, esqueça essa
história de dinheiro.
Temos que nos considerar, sempre, fracassados (mesmo que de
fato não o sejamos), sem desanimar, contudo, em decorrência desse fracasso. Em
vez disso, é preciso tentar, tentar e tentar produzir a obra perfeita, cada vez
melhor, cada vez mais correta, precisa, clara e elegante, sem tréguas, sem
descanso, sem lero-lero, até o dia da nossa morte.
O verdadeiro sucesso (caso o obtenhamos) só virá com a
posteridade. Nunca saberemos se o obtivemos ou não. É algo a ser deixado para
os herdeiros (caso aconteça), como nosso grande legado, que justifique todo
nosso esforço e a própria opção que fizemos na vida.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Vejo que o tema sucesso volta sempre. A maioria evita pensar no fracasso, mas o sucesso é algo tão impossível, que eu nem penso nele.
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