Muda a Voz do Brasil
* Por
Mara Narciso
A importância do rádio
permanece, ainda que existam meios mais modernos. É a mídia barata que chega
mais depressa. Ouvir é uma grande diversão, basta ver as reações dos não
ouvintes, quando, através da tecnologia, ouvem pela primeira vez. São surpresa,
festa e alegria. Então, no distante Brasil, aonde a internet chega mal, ou
faltam recursos, lá está o rádio, trazendo as notícias boas e más, estas numa
angustiante predominância.
O tempo no rádio, por
ser mais amplo, possibilita o anônimo se manifestar com liberdade, mesmo sendo
clara a linha do veículo. Muitos locutores fizeram o curso de jornalismo,
depois de serem reconhecidos profissionalmente, ainda que o ministro Gilmar
Mendes tenha dito que não é preciso diploma, pois “a profissão não oferece
perigo de dano à coletividade”. Não?
Músicas que não tocam
na TV tocam no rádio. Muitas estações têm pregações católicas e evangélicas. O
futebol tem espaço em algumas estações. Ensina-se de tudo, e fica clara a
tendência política daquele ponto do dial. Para conhecer as variáveis e análises
das notícias é preciso ler revistas, jornais, internet/blogs/redes sociais, ver
TV e ouvir rádio de vários matizes. Então, será possível esboçar uma imagem
sobre o que se passa, especialmente no tempo inseguro que vivemos.
Nesse contexto, era
indispensável ouvir, de vez em quando, a Voz do Brasil (nos seus primórdios,
Hora do Brasil), da EBC Serviços – Empresa Brasileira de Comunicação. No tempo
da Ditadura Militar era um programa “chapa branca”, de exaltação ao “Governo
Atual”. Quando era ouvido “O Guarani” de Carlos Gomes, e “em Brasília, 19
horas”, muitos calavam o rádio. O programa se dividia em um tempo para cada um
dos três poderes: Executivo, Legislativo (Senado e Câmara Federal) e
Judiciário. Desde 2007 era possível ver a pluralidade de opiniões, com espaço
para os vários grupos da nação Brasil.
A primeira parte
falava das ações do governo, valorizando, através de comentários de pessoas
beneficiadas, os feitos do Governo Federal. Nos seus devidos tempos, senadores
e deputados se manifestavam, com notícias dos vários partidos, inclusive
oposição ao governo e citações de projetos de lei. O Judiciário mostrava casos
em que a lei dera ganho de causa para o fraco, geralmente um empregado, que
tivesse passado por constrangimento e humilhação.
Michel Temer exonerou
o diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, cujo mandato, pela lei aprovada pelo
mesmo Temer, deveria ser de quatro anos. Para seu lugar, nomeou o jornalista
Laerte Rímoli, que fez a campanha de Aécio Neves, teve uma passagem pela Rede
Globo (segundo a própria Voz do Brasil) e comunicação da Câmara Federal, onde
nunca fez crítica a Eduardo Cunha. De acordo com a primeira diretora do órgão,
a jornalista Tereza Cruvinel, houve “um rebaixamento dos canais públicos a
condição de serviços de comunicação governamental”.
A mudança do Governo
Dilma para o Governo Temer levou a uma alteração no tom. Não se fala mais
“presidenta afastada”, mas sim “presidente”, e não é dito “presidente em
exercício” sempre que Temer é mencionado. Os casos populares sumiram, e não há
mais discurso da oposição. No desmonte do governo anterior, sabe-se que a
coordenação da Voz do Brasil é outra.
Tereza Cruvinel diz na
sua carta ao presidente interino: “O que está em causa é a inobservância da lei
e a preservação de um direito difuso da
sociedade brasileira, o direito a uma comunicação pública complementar e
independente, asseguradora da expressão da diversidade e da pluralidade, característica
das sociedades democráticas.
Foi isso que a Câmara
dos Deputados aprovou naquela noite (19/02/08), com o seu voto. Não o renegue,
aniquilando a comunicação pública.”
Então, que os espaços sejam respeitados como antes, para que não seja
preciso desligar o rádio quando os ponteiros marcarem 19 horas. A Voz do Brasil
muda.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Concordo com muita coisa, Mara. Tenho também os dois pés atrás em relação a Michel Temer - embora entenda que qualquer Michel Temer é melhor do que o que tínhamos antes dele. Agora, não há como negar que, nas mãos do partido dos trabalhadores, a EBC e a Voz do Brasil continuaram tão "chapa branca" quanto no tempo do Brasil grande do governo militar. Uma chapa branca a serviço do embuste vermelho.
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