Academias de Letras
Caríssimos leitores, mais uma vez, boa
tarde. Como sempre, sinto-me grato por sua presença entre nós e espero que
aproveitem bem esta visita.
Hoje, conversarei com vocês sobre um
tema polêmico, um dos que mais tenho encarado em rodas de escritores e a
respeito do qual – e pode ser debatido o quanto quiser – jamais se chegará a
uma conclusão definitiva. Refere-se à importância das academias de letras no
cenário da cultura nacional. É válida nossa participação nesse tipo de
instituição, voltado, basicamente, à preservação da memória dos seus
integrantes? Para muitos, ser acadêmico não passa de mera manifestação de
vaidade. O fato de alguém fazer parte de alguma academia de letras o torna
melhor escritor do que quem nunca sequer passou em frente a nenhuma delas?
Vamos por partes. Creio na validade de
se pretender ser acadêmico, já que essas instituições não se destinam, apenas,
a “massagear o ego” de seus membros, como os desavisados (e os invejosos)
afirmam. A maioria promove cursos, palestras, exposições de artes e outros
tantos eventos culturais, importantes para qualquer cidade de qualquer país. Os
acadêmicos, portanto, (salvo exceções, claro), não satisfazem aquele surrado
estereótipo, ou seja, o de um bando de velhinhos que se reúne para o chazinho
das cinco e para jogar conversa fora. Se vocês pensam que é isso, esqueçam. Não
é!
Ademais, as academias são garantias de
preservação da memória literária de um povo. Daí seus membros serem chamados de
“imortais”. Por que essa designação? Porque enquanto existir a academia a que o
escritor pertença, seu nome e suas obras serão sempre lembrados, estudados e
exaltados por seus companheiros, muitos e muitos e muitos anos após a sua morte.
É uma das obrigações do acadêmico manter viva a lembrança dos antecessores em
sua respectiva cadeira.
Claro que há, nisso tudo, forte
componente de vaidade. Mas que mal há nisso? Que mal existe em alguém pretender
nunca ser esquecido, principalmente se tem a convicção de que fez por merecer
essa lembrança e se legou uma obra literária inteligente, interessante e
consistente?
Há acadêmicos que, até por questões de
saúde (em geral as pessoas são eleitas para as academias muito depois dos
sessenta anos), não participam de cursos, palestras e outras tantas atividades
que essas instituições promovem. Nem por isso, porém, são menos importantes do
que os que participam com assiduidade desses eventos.
Todavia, o fato de alguém fazer parte
dessas instituições não o torna, em absoluto, melhor ou pior do que ninguém.
Milhões de escritores mundo afora jamais foram acadêmicos e nem por isso suas
obras são menos valiosas, inteligentes e consistentes do que as de quem está no
rol dos “imortais”.
Houve tempo em que eu achava imensa
bobagem disputar vaga em alguma das tantas academias de letras. Não tardou,
porém, para que eu descobrisse que estava agindo como a raposa da fábula de La Fontaine, que desdenhava
das uvas que não conseguia alcançar, pretextando que elas estavam verdes. Quando
apareceu a chance real de eu me tornar acadêmico, mudei por completo de
postura. E não me envergonho de ter mudado de opinião.
Desde 1992 tenho o orgulho e a honra de integrar uma das
mais tradicionais e respeitadas academias de letras do País – que neste mês,
que ora termina, completyou 60 produtivos anos de fundação – a Academia
Campinense de Letras, e de uma cidade que se destaca no panorama cultural
brasileiro como um dos mais avançados centros de ciências, artes e cultura do
Brasil.
Refiro-me a Campinas, terra natal de
Guilherme de Almeida, de Carlos Gomes e de Júlio de Mesquita, entre tantos e
tantos e tantos outros grandes vultos nacionais. Afinal, convenhamos, não é
qualquer cidade que tem o privilégio de contar com cinco universidades – entre
as quais a Unicamp e a Universidade Católica de Campinas, referências
universitárias em toda a América Latina – além de centenas de faculdades. A
imensa maioria das capitais brasileiras nem de longe se compara a Campinas
nesse mister.
A sede da Academia Campinense de Letras
é um dos principais cartões postais desta metrópole de 1,2 milhão de
habitantes. Destaca-se na paisagem por sua imponência e beleza. Sua fachada,
para vocês que não a conhecem terem pálida idéia, reproduz o Partenon de
Atenas, da Grécia antiga. É relevante obra de arquitetura e de bom-gosto.
Antes de conhecê-la internamente, e de
ter a honra e o privilégio de ser seu membro, eu achava que se tratasse de um
templo de alguma religião exótica qualquer, das tantas que há por aí. Ao me
tornar acadêmico, tive a confirmação. E hoje não tenho o menor escrúpulo de
tratá-la assim.
A Academia Campinense de Letras é, sim,
um templo, mas não de adoração de alguma fictícia e estranha divindade
primitiva, mas da cultura, do saber e principalmente das belas letras, da plena
valorização e reverência desta “última flor do Lácio, inculta e bela”, que é a
língua portuguesa. Parabéns, pois, ao seu ilustre presidente, Agostinho Tavolaro
e a todos os confrades e confreiras que nestes 60 anos fizeram a grandeza e a
glória desta casa do saber.
Boa leitura.
O Editor.
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