O homem que cai
* Por
Assionara Souza
Está a ponto de voar
Amarre as asas no corpo
Enrole inteiros os braços
Como se fossem asas presas
E mergulhe de cabeça
Bem longe dos pensamentos
Lâminas finíssimas sobre os pés
A dor sobe até o coração e dispara
O mínimo na palma da mão
Pronto para voar e - quando interrompido
Não somente esquecer o desespero
Nada haverá nada a esquecer
Encha de água os pulmões
Repire o ar antes que seja fogo
Aperte o cano da respiração
Voe aceleradamente até o chão
Isso tudo para não continuar
Para não ver o próximo canto
Se transformar em grito
E depois?
O que fazer com o invólucro maldito?
Lançá-lo aos bichos?
Até que tudo passe e a vida permaneça viva
Lamentamos muito
Estamos inconformados
Profundamente tristes
Um último pedido
Que a vida viva e seja vista
Não se deve esconder a vida
Nunca guardá-la dentro dos sótãos
Ao sol os gestos são mais livres
A ponto de voar
Agora já está indo
E o que ficar, seja leve e doce
Um instante depois do outro
*
Escritora potiguar que nasceu em Caicó/RN, em 1969, mas mora em Curitiba/PR. É
doutoranda em Estudos Literários pela UFPR, onde pesquisa a obra de Osman Lins.
“Cecília não é um cachimbo” (7Letras/2005) é sua obra de estreia na literatura.
Publicou, também, o livro”Amanhã. Com sorvete!”.
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