Fernando Spencer Hartmann
* Por
Celso Marconi Lins
Jomard dizia que nós
éramos sócios. E éramos mesmo. No tempo em que o jornalismo fazia questão do
‘furo’ nós pouco ligávamos para essa estória. A notícia de um passava
imediatamente para o outro. E íamos entrevistar o pessoal sempre juntos sem
nenhum mistério. Toda atividade que Fernando fazia tinha que ter a minha
presença e o mesmo comigo. Quando eu voltei da China uma reportagem sobre o
cinema de lá foi publicada numa revistinha que Spencer publicava.
Começamos a fazer
‘cinema de arte’ na sala do Soledade pois o padre que era vigário da igreja era
o Monsenhor Salles, que era meu professor de Filosofia na Faculdade ao lado.
Spencer começou a fazer cinema com “A Busca” com ajuda de José Ronaldo Gomes
que então era o gerente da Severiano Ribeiro e nosso amigo. E fui algumas vezes
para as filmagens no Barro. Também fui lá para Goiana quando Fernando fez “A
Banda” e fui o personagem do velho. Ivan Soares também era nosso aliado e íamos
juntos muitas vezes para o bairro do Recife onde estavam os escritórios das
distribuidoras de cinema atrás de filmes para exibir no ‘cinema de arte’.
Muitas vezes íamos para a sala da Severiano para entrevistar cineastas.
Minha amizade com
Spencer começou nos anos 50. Quando houve o golpe de 64 fiquei sem trabalhar
até 66 pois havia a ordem do 4º Exército aos jornais para não empregar ninguém
que tinha trabalhado na Última Hora. Em 65 teve um Festival Internacional de
Cinema, no Rio, e Fernando conseguiu no Diário que eu fosse incluído como
credenciado para representar o jornal e assim fomos juntos. Foi lá a única vez
que eu falei pessoalmente com Glauber. Numa festa em pleno Copacabana Palace. E
eu e Spencer, dois paus-de-arara nela, vestidos de smoking! Fomos amigos de um
japonês do Consulado do Japão, Akira Kaguesato, que trazia vários anos uma
mostra de filmes de sua terra e a gente exibia no Coliseu, no Parque… A gente
eu e Spencer discordava muito mas era uma discordância que nunca nos levava a
brigar. No fim da vida a gente ficou mais distante mas a ligação continuava
muito próxima.
Spencer também era de
esquerda como eu mas não se expressava muito claramente, era seu jeito. Lembro
quando Aluísio Falcão foi candidato a Presidente do Sindicato dos Jornalistas
eu fui várias vezes à casa de Spencer para quase impor a ele votar em Aluísio e
terminamos ganhando.
Fernando Spencer
deixou três filhos com Áurea e três filhos com Inês. E muitos netos. A última
vez que falei com ele foi por telefone e ele estava muito cansado. Eu me sinto
muito menor sem a companhia de Spencer. Eu gostava quando Josué, antigo gerente
da Embrafilme que também já foi, me chamava de Celso Spencer.
Olinda, 24. 3. 14
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Celso Marconi Lins é jornalista e cineasta
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