Cumplicidade
* Por Rodrigo
Ramazini
- Pára Moisés!
- O que eu estou fazendo?
- Tira esse dedo do nariz! Tu não estás
vendo que estão filmando a cerimônia?
- Estava coçando...
- Coça discretamente.
- Será até engraçado eu aparecer na
fita do casamento coçando o nariz em plena igreja... Ah ah ah!
- Que lindo!
- Com o passar dos anos tu perdeste o
bom humor, hein Jordana?
- Também! Para te aturar, só assim...
- Sempre achei que o melhor seria o
contrário! Mas enfim, o que eu faço?
- Presta atenção no cerimonial, pois tu
serás o próximo...
- Eu? A Karina Bachi aceitou o meu
convite então?
- Abobado!
- Só se for com ela...
- Eu sinceramente não sei o que o tempo
fez contigo. Antes queria casar, ter filhos e Etc.
- Isso se chama lucidez! Aquisição de
sabedoria...
- Cachorrice trocou de nome agora?
- Pronto! Vai começar...
- E saber que eu um dia te vi como
príncipe encantado... Onde eu estava com a cabeça!
- Paixão é o nome disso!
- Ainda bem que a gente se recupera
deste estado!
- Pois é...
- Se arrependimento matasse!
- Isso! Vai ignorando...
- Não estou ignorando. Estou apenas
falando a verdade...
- Então tá.
- Que foi? Por que essa cara?
- Nada não.
- Fala logo Moisés! Não te faz de
vítima...
- Se não queres mais, Jordana? Tem quem
queira...
- Ah é?
- Arãn! Várias...
- Tu estás louco que eu te dê um pé na
bunda para ficar soltinho no mundo de novo, né? Fervendo com essas piranhas que
andam por aí...
- Exatamente!
- Mas não vai escapar, meu filho! Me
enrolou todos esses anos, agora vai ter que casar.
Neste momento termina a cerimônia de
casamento. Em um “teatro” muito bem ensaiado, os pais da Jordana se aproximam e
diretamente tocam no assunto.
- Filha! Me emocionei com esse
casamento. Fiquei imaginado eu e a minha garotinha, de véu e grinalda,
adentrando na igreja...
- Pois é, pai! Eu e o Moisés estávamos falando
justamente sobre isso... Sobre o nosso casamento... Não é Moisés?
- É...
- Já tem uma idéia de data, Moisés?
- Pois é, Seu Paulo...
Moisés joga o braço direito sobre os
ombros do sogro, e leva-o para um canto da igreja, afastando-se das mulheres,
onde, cochicha.
-
Seu Paulo! Vamos jogar limpo um com o outro. Se hoje o senhor voltasse a ter a
minha idade, se casaria novamente?
- Bah! Boa pergunta, meu filho! Boa
pergunta... Mas no nosso caso é da minha filha que estamos falando.
- Eu sei... Mas pegue essa situação e
acrescente o fato de ter uma amante com grana, que paga várias das tuas
despesas, te proporcionando uma série de confortos, e que a única exigência que
ela te faz é não se casar... Questão de consciência feminina... Vai entender a
cabeça das mulheres...
-
Uma amante? O que isso, rapaz?
- Oh Seu Paulo, moralismo pra cima de
mim? De amante eu sei que o senhor entende...
- Opa... Opa...
- Pois é... Agora me diz: no meu lugar,
o que o senhor faria?
- Ãh... Ãh... É! Me convenceu... Entre
nós: mais um ano eu consigo adiar esse casamento, mas tome jeito, rapaz!
- Pode deixar, Seu Paulo! Pode
deixar...
- Vamos voltar para lá agora, se não
elas vão desconfiar...
* Jornalista e contista
gaúcho
O mundo masculino tem dessas coisas.
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