Coração acima da razão
O esquecimento é tremenda injustiça que as novas gerações
cometem em relação aos idealistas, aos competentes, aos realizadores, aos que
dedicam uma vida inteira a alguma causa que beneficie a humanidade, aos
abnegados, aos altruístas enfim. Tenho batido insistentemente nessa tecla e nem
sempre sou bem compreendido. Não faz mal! Meu leitor assíduo é testemunha do
meu empenho para manter viva a memória principalmente dos bons escritores que,
tão logo morrem, caem em completo esquecimento, como se nem mesmo tivessem
existido. E todos perdem com isso. Aliás, quem perde menos (ou rigorosamente
nada) é exatamente o esquecido. Afinal, morto, não lhe faz a menor diferença se
for lembrado ou não. Porém as pessoas que estão formando opinião sobre a vida,
o mundo e tudo o que nos cerca, perdem preciosas referências, indispensáveis
oportunidade de enriquecer suas idéias.
Faço o que faço também pensando na minha própria situação.
Ajo assim na esperança (que espero não seja vã) que alguém, algum dia, em algum
lugar, em futuro distante, tenha a mesma preocupação em relação à minha obra,
resgatando-a e evitando que se perca no vazio, como se nunca houvesse sido
produzida e como se eu jamais tenha existido. E, creiam-me, não se trata de
vaidade. É questão sumamente prática, além de representar justiça para quem não
se omite, mas age sempre, e sempre e sempre enquanto vivo. Se for para ser esquecido,
não faz o menor sentido a dedicação, a responsabilidade, o empenho, o
sacrifício com a privação de tanta coisa boa que a vida oferece para a produção
de alguma obra, literária ou de qualquer natureza.
Por isso, sempre que posso, e utilizando, vez ou outra, como
“gancho”, o centenário de nascimento ou de morte de determinado escritor (ou de
qualquer grande realizador), trago à baila para as novas gerações, quem foi e,
sobretudo, o que fez. Foi o que fiz, por exemplo, nos dias anteriores em
relação ao escritor português Vergílio Ferreira, sobre o qual teci alguns
comentários e que mereceria muito mais, pela excelência da sua produção. A idéia
inicial era a de escrever longo e detalhado ensaio a propósito. Todavia, outros
assuntos se impõem e se tornam mais atuais. E não posso frustrar as
expectativas dos leitores. Não abandonei, porém, a intenção original, embora me
proponha a cumpri-la apenas em ocasião mais oportuna. Tomara que ela surja.
Pesquisando em enciclopédias e no Google para elaborar uma
pauta a ser seguida neste ano, encontrei poucos centenários de nascimento e de
morte de escritores que ocorrerão em 2016. Provavelmente, deve haver muitos,
mas de autores tão “esquecidos”, que nenhuma fonte sequer os menciona. Uma
lástima! E, principalmente, enorme injustiça, além de irreparável perda para as
novas gerações. Localizei menções de três centenários de nascimento. Um deles,
o de Vergílio Ferreira, já abordei, embora, reitero, não da forma que pretendia
e que ele merece. Os outros dois que detectei vão ocorrer, apenas, no mês final
do ano: o do poeta matogrossense Manoel de Barros, falecido em novembro de 2014
e que completaria cem anos de idade em 19 de dezembro e o do folclorista, jornalista e escritor Luís
Cristóvão dos Santos, falecido em 1997 e que aniversaria no Natal. Se tudo
transcorrer como planejo, tratarei de ambos nessa ocasião. Por hoje, fica,
apenas, o registro.
Quanto aos centenários de morte, localizei quatro. O
primeiro é o do político, escritor, jornalista e médico gaúcho, Ramiro
Barcelos. Ele nasceu em 23 de agosto de 1851 e morreu em 28 de janeiro de 1916,
aos 65 anos de idade. Tratarei da sua vida e sua obra, portanto, ainda no final
do corrente mês. Em fevereiro, vão se completar outros dois centenários de
morte: no dia 2, o do escritor, educador e jornalista paraense José Veríssimo (nascido
em 8 de abril de 1857) e, no dia 19, o do advogado, romancista e contista
Afonso Arinos de Melo Franco (que nasceu em 1º de maio de 1868). Finalmente, a
pauta do ano será completada em 6 de outubro, com o centenário da morte do
engenheiro, jornalista, professor, contista e teatrólogo Manoel Ferreira Garcia
Redondo, nascido em 7 de janeiro de 1854.
O consagrado escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez
(querido Gabo!!!), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1982, tinha
opinião bastante pitoresca sobre essa questão de esquecimento (com, a qual
concordo plenamente). O autor de “Cem anos de solidão” escreveu, certa feita: “Lembre-se:
é fácil esquecer para quem tem memória, difícil é esquecer para quem tem
coração”. Ou seja, para quem não se limita a raciocinar, mas se emociona com os
que dedicam a vida para fazer algo que mereça gratidão e eterna lembrança
(embora essa “eternidade” seja, óbvio, absoluta impossibilidade para nós,
efêmeros humanos). Pois é assim que pauto minha vida. Embora sem abrir mão da
razão, priorizo o coração em meu comportamento. Daí empenhar-me para nunca
esquecer (e batalhar para que outros jamais esqueçam) aqueles que merecem ser
lembrados, mas ás vezes não são.
Boa leitura.
O Editor.
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A minha família tem fama de não deixar morrer os nossos entes queridos.Estamos falando constantemente deles. Quanto aos escritores e outras pessoas de bons feitos, acho seus resgates preciosos, Pedro.
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