Qual
presente de Natal você merece ganhar?
* Por
Mara Narciso
Primeiro deixe o
pensamento viajar pelos lugares comuns do Natal. A grande mágica do pensamento
é proporcionar essa viagem. Humanos são seres extremistas e cabe a cada um
domar o que pensa, podendo passear por memórias boas e ruins de natais ou
carnavais. Para cada pensamento um sentimento. Pode se deixar levar pela
crítica fácil ao consumismo, entender papai-noel como uma aparição polar
ridícula num dia fervente, mensurar os exageros na comilança e compromissos
desvairados, onde metade poderia ser descartada.
Alguns veem o Natal
como uma festa falsa, na qual abraços e sorrisos forçados comparecem nas
dezenas de fotos postadas no Facebook. Outros relembram tragédias do período,
enumerando desastres, mortes, perdas e prejuízos. Culpam o espírito do Natal e
não a insânia humana. Os mais sensíveis mostram-se amargurados com a data e
mencionam que perderam alguém que amava o Natal ou pela época do Natal e então
assumiram o negativismo.
Há quem fique agarrado
ao passado, falando de hábitos que não voltam mais. Contam como eram as festas
de fim-de-ano de décadas antes, tempo bom, de rezas e tradições e não de
pessoas desumanizadas correndo pelos shoppings, digitando em seus celulares. O
mal-falado celular ajuda na resolução de problemas, ninguém duvida, e neste
período leva fotos viajadas no WhatsApp para ajudar em decisões.
Os não cristãos,
naturalmente, não comemoram o Natal, dia do nascimento de Cristo. Várias
denominações cristãs também não. Reúnem-se para rituais de fim-de-ano, mesmo
que seus calendários contem números diferentes e não gregorianos, e somem
números muito maiores do que o 2016 ocidental que se avizinha.
Os apaixonados pelo
Natal, a cada ano, decoram a sua casa mais cedo, curtem, envolvem-se, projetam,
inspiram-se, desde outubro (acusam os contrários ao capital). Tudo funciona
como uma catarse do que já passou para um renascer convicto e purificador.
Abraçam o otimismo, planejam, se doam em abraços, presentes, visitas, carinhos,
amores e atenções. O período, para quem é assim, serve para mudar seu espírito
e o dos outros, numa prestação de serviço em nome do bem, oferecendo os
préstimos, e distribuindo o que tem de melhor.
O período do Natal
chegou. Ele não se importa com o seu mau-humor, suas perdas, os buracos da sua
vida, suas críticas, sua falta de saúde ou de dinheiro. De qualquer maneira ele
vai acontecer, com ou sem você. Os que o odeiam trancam-se em lamúrias,
inspiram-se na raiva contra a farsa e o consumo. Pensam nas tragédias de todos
os dias, no terrorismo, lama, seca, crise moral, política, econômica, dengue,
chikungunya, zika. No outro extremo, os sonhadores sentem que cada segundo
conta, assim como cada gota conta, seja de carinho, seja de água. Vão fazendo
seu périplo pelas lojas e supermercados, constroem festas e confraternizações,
dão o melhor de si, valorizando-se e aos outros. Entendem que o fim-de-ano é um
pretexto para se fazer dois róis, o que já passou e o que se pretende fazer. Se
for corajoso, repassa cada item do último rol, para se certificar de que foi todo
cumprido.
A individualidade de
pensamentos e sentimentos precisa ser respeitada. Lucre, escolhendo o caminho
leve do perdão e da ausência de culpas. Que se possa viver simplesmente como se
queira, sem apontar o dedo para os demais. Cada um deve viver como conseguir.
Não culpe a ninguém pelo que não fez até agora. É cômodo, mas inútil. Não
permita que o negativismo destrua as memórias dos natais da boa criança que
você já foi. Pegue um sorriso emprestado, caminhe na direção do outro, acolha,
compreenda, aceite, refaça laços, perdoe. Presenteie se quiser.
Em tempos de
sucessivos escândalos e fraudes, não veja nos gestos humanitários sinais de
falsidade. Como sugestão, mude seu modo de pensar. Junte-se aos que ajudam.
Todos merecem luz, paz e dignidade no Natal, até o mais negativo, aquele que se
lamenta por ter perdido tempo lendo mais um texto banal. A época do Natal é
isso: puro sentimento, sentimento puro. Dê a você e aos outros este presente.
No Natal e no restante do ano.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional,
membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico,
ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Boa reflexão sobre o Natal e sobre o que fazer com ele! Feliz Natal, amiga Mara.
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