Crise penaliza indústria editorial
As crises econômicas, com suas perversas conseqüências
sociais, são todas, sem exceção, originadas também (diria que principalmente)
por conflitos políticos e não somente por equívocos e incompetência
administrativos, como se pensa. Entre os setores afetados por elas, o mercado
editorial é, invariavelmente, um dos mais penalizados, porquanto ainda persiste
a idéia burra de que livro é bem
supérfluo, do qual se pode prescindir, notadamente em ocasiões em que é preciso
“apertar o cinto” para equilibrar orçamentos, quer estatais, quer familiares.
Obviamente que não é! Mas é o que vem acontecendo ao longo de todo este tenso,
polêmico, sombrio e conflituoso 2015, com perspectivas nada alentadoras para
2016.
Editoras e livrarias vêem seus faturamentos minguarem e os
que vivem de Literatura (“também” dela, mas raramente “exclusivamente” dela) é
que, ao fim e ao cabo, findam por pagarem o pato. Suas oportunidades, que nunca
foram fartas, se tornam crescentemente menores, forçando-os a abortarem ou a adiarem
potenciais promissores projetos literários. Refiro-me aos escritores, tão
desprotegidos que sequer são considerados profissionais. A grande prejudicada
será, óbvio, a cultura nacional. Ou seja, será toda a sociedade, uns mais e
outros menos. Não entrarei no mérito sobre quais são os culpados pela atual
crise econômica – que, aliás, é internacional e que afeta até economias poderosíssimas
como as da China e dos Estados Unidos – já que este espaço não é o apropriado e
adequado para isso. Proponho-me, apenas, a fazer algumas reflexões residuais a
propósito dessas freqüentes e recorrentes dificuldades que são cíclicas,
conforme registra a própria História.
Crises econômicas sempre afetaram todos os povos, impérios e
países com conseqüências sociais e políticas variáveis, conforme as formas como
foram enfrentadas. Em alguns casos, foram trágicas. Em tantos outros, foram
mais amenas e pouco duradouras. O poderosíssimo Império Romano, por exemplo,
enfrentou diversas delas, transferindo, porém, seu ônus para os países que
submetia a poder de armas em suas
conquistas militares, lhes cobrando escorchantes tributos. Na Idade Média,
poderosos reis recorriam a empréstimos, raramente saldados, para financiar seus
gastos irresponsáveis, nababescos e perdulários. Enfim, não há uma única
sociedade nacional que tenha ficado livre de crises econômicas.
Em abril de 1993, quando eu era editor de Economia do
Correio Popular de Campinas, recebi, na redação, a seguinte receita para a
manutenção do desejável equilíbrio das finanças de qualquer país: “O orçamento
nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a
arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos aos
governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a nação não quiser ir à falência.
As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta
pública”. Essa prudente e sábia receita não foi feita por nenhum célebre
economista, digamos, ganhador do Prêmio Nobel de Economia. Esta citação foi-me
enviada à redação por um jovem estudante secundarista da cidade, que se
identificou, somente, como “Marcos”. Claro que ele não foi seu ator e muito
menos ex-ministros da Fazenda ou do Planejamento, como Delfim Netto ou Roberto
Campos, ou outro qualquer, dos atuais. Nem partiu de qualquer membro deste
governo ou dos passados ou de seus principais opositores. Sequer é recente.
Essa “receita” para o equilíbrio econômico de qualquer país
é antiga, antiqüíssima. Data, para ser exato, de 55 antes de Cristo. E é de
autoria do tribuno e senador romano Marcus Tulius Cícero.
Apesar da observação ter sido feita,
portanto, há mais de dois milênios, como é atual e como se encaixa, feito uma
luva, à presente situação brasileira!!!! Conclui-se que parte considerável da
culpa de estarmos atravessando uma crise como jamais o País enfrentou antes se
deve ao fato de as nossas autoridades, notadamente políticos, e não somente do
governo central, mas de estados e de municípios, repetirem erros milenares,
primários, palmares, inconcebíveis para administradores com um mínimo de
competência e bom senso.
Dos setores que entendo devam ser protegidos e estimulados,
nesta época de “vacas magras”, o principal é o da indústria editorial. Entre os
“produtos” essenciais e indispensáveis à sociedade, o livro é tão importante
quanto é o alimento. Enquanto este nutre o corpo, aquele nutre o espírito,
possibilitando que se encontrem soluções inteligentes e factíveis para o fim
não só da crise econômica, mas de todas as demais, incluindo e enfatizando, a
ética e a da ignorância e obtusidade, que estimulam a intolerância e a
violência. É inconcebível que num país, como o Brasil, com tamanhas
deficiências na educação, a ferramenta que pode corrigir essas distorções se
torne cada vez mais cara e, portanto, rara. Tomara que o escritor inglês, H.
G. Wells, que afirmou, certa feita, que “a crise de hoje é a anedota de amanhã”,
esteja coberto de razão. Tomara!!!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Pelo menos que a dor de hoje seja o sentimento de alívio de amanhã.
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