Prosa
* Por
Assionara Souza
"Ao cair da tarde" não é um bom modo de
começar um poema
E nisso, veja que interessante, o poema começou por
si mesmo
Independente de qualquer coisa, como um herói de
quadrinhos
Que se mexe somente na imaginação quando o pulo dos
olhos
Se dá exatamente de um quadrinho para outro
enquanto lemos
Ao cair da tarde, portanto, e juro que isso é a
mais pura verdade
Estávamos todos interligados naquele circuito louco
imaginativo
De repente, passando os olhos por ali, me deparei
com o poema
E, pasmem!, era um poema de amor
Pois não é que o garoto escreveu um poema de amor!,
pensei
Mas nisso eu já estava lendo o poema
À medida que lia, alguma coisa criou em mim uma
vontade
Isso mesmo, uma vontade de escrever
E é por isso que estou aqui, aparentemente sem
motivo algum
Mas isso só aconteceu ao cair da tarde...
Bom, não é bem assim. Talvez tudo tenha acontecido
antes
Você pode ficar pensando: antes quando?
Antes hoje mesmo, quando saí a rua e encontrei dois
poetas
Ambos estavam, como direi...? À paisana!
O primeiro poeta, bem, era uma poeta
E ela estava andando na calçada e me viu e eu
também a vi
Pensei: que coisa curiosa, um poeta andando não
difere quase
em absolutamente nada de qualquer pessoa que esteja
por aí
Mas o segundo poeta estava parado, sentando,
quieto, calado
Fui lá, cheguei, parei. E aí, Nome Sobrenome! Como
está tudo?
Bem, desperto do transe, tornou-se outra vez poeta,
mais sério
Falante. Informou-me das últimas notícias
subjetivas do mundo
E agora, ao cair da tarde, essa besta vontade de
escrever em verso
*
Jornalista
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