terça-feira, 10 de novembro de 2015

Madrugada de Verão


* Por Eduardo Oliveira Freire


“A principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado”. Sêneca


Não consegue dormir. Olha pela janela o céu escuro e repleto de estrelas. Percebe que uma coruja o observa. O olhar do bicho gela seu coração.

Lembra-se de Marisa com rosto pálido, deitada numa maca; o médico com cara de raiva olhando para ele e a moça. Tem a impressão que a coruja manifesta a mesma fisionomia carrasca. Não deseja recordar.

Marisa gostava de ficar por cima quando faziam amor, via-a soberana. Outra vez, a maca aparecia e o mesmo rosto feminino pálido. A cada segundo, a coruja se torna gigante.

Fecha todas as janelas da casa. Fica só de cueca, mesmo assim estava encharcado de suor. Escuta o barulho de asa nas vidraças.

Não aguenta o calor, toma banho. Água insuportavelmente quente. Escuta um barulho, vê a coruja no basculante. Sai do banheiro e deita na cama molhado. O sono vem. Adormece com o vento quente do ventilador secando-o.

Amanhece. F. vai à janela e a abre, céu está azul e infernal. Coloca uma sunga e caminha até a praia. Quando retorna, pega a maçã mais bonita na geladeira. Morde e cospe em seguida, está podre. De repente, sente a presença da coruja.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


Um comentário:

  1. Difícil dormir, com esses fragmentos de história. Cabe ao leitor enxertar o que falta.

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