Madrugada de Verão
* Por
Eduardo Oliveira Freire
“A
principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se
culpado”. Sêneca
Não consegue dormir.
Olha pela janela o céu escuro e repleto de estrelas. Percebe que uma coruja o
observa. O olhar do bicho gela seu coração.
Lembra-se de Marisa
com rosto pálido, deitada numa maca; o médico com cara de raiva olhando para
ele e a moça. Tem a impressão que a coruja manifesta a mesma fisionomia carrasca.
Não deseja recordar.
Marisa gostava de
ficar por cima quando faziam amor, via-a soberana. Outra vez, a maca aparecia e
o mesmo rosto feminino pálido. A cada segundo, a coruja se torna gigante.
Fecha todas as janelas
da casa. Fica só de cueca, mesmo assim estava encharcado de suor. Escuta o
barulho de asa nas vidraças.
Não aguenta o calor,
toma banho. Água insuportavelmente quente. Escuta um barulho, vê a coruja no
basculante. Sai do banheiro e deita na cama molhado. O sono vem. Adormece com o
vento quente do ventilador secando-o.
Amanhece. F. vai à
janela e a abre, céu está azul e infernal. Coloca uma sunga e caminha até a
praia. Quando retorna, pega a maçã mais bonita na geladeira. Morde e cospe em
seguida, está podre. De repente, sente a presença da coruja.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Difícil dormir, com esses fragmentos de história. Cabe ao leitor enxertar o que falta.
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