Brasil: reconhecimento zero!
O brasileiro (se é que se possa generalizar) “parece” dar
pouca (ou nenhuma) importância ao Prêmio Nobel, em todas as suas várias
categorias. Nesse caso, cabe, a caráter, o dito popular de que “as aparências
enganam”. E como enganam! A impressão que tenho, em relação a essa prestigiosa,
posto que polêmica premiação é que a fábula de La Fontaine, “A raposa e as uvas”,
simboliza á perfeição nossa atitude a propósito. Após tentarmos, tentarmos e
tentarmos alcançar os cobiçados cachos da fruta, em vão, dizemos, desdenhosamente,
como se estivéssemos sendo sinceros: “Não os queria mesmo: estão verdes”. Em
relação ao Nobel, desabafamos, com inquestionável despeito: “é marmelada! E o
prêmio não tem nenhuma importância”. Será que não tem?
Qual brasileiro – não importa se médico, físico, químico,
biólogo, economista ou escritor, ou mesmo emérito pacificador – que nunca
cogitou, mesmo que em delirante sonho, desses tão secretos que não admitimos
nem para nos mesmos (embora os tenhamos) que nunca ambicionou conquistar um
Nobel? E não somente pelo prestígio que esse prêmio confere ao nosso currículo,
mas até pelo dinheiro, cuja quantia, convenhamos, não é nada desprezível. Da
minha parte, confesso (e não importa o juízo que façam de mim) que isso já me
passou pela cabeça pelo menos uma vez, mesmo sabendo (não sou burro) que se
trata de remotíssima possibilidade, cuja probabilidade, sejamos realistas,é
virtualmente, “quase” zero. Todavia... a vida é tão surpreendente, em seus
altos e baixos, que... nunca se sabe.
Debatemos, há décadas, qual a razão de nenhum brasileiro ter
conquistado, jamais, nos 115 anos de existência do Nobel, o prêmio em nenhuma
das suas categorias. Minha opinião (e respeito quem pense diferente) é que isso
se deve, basicamente, a três fatores principais (posto que não únicos e não
necessariamente nesta ordem): desconhecimento sobre o Brasil e seus
intelectuais e cientistas, certa incompetência da parte das pessoas e entidades
nacionais que têm a prerrogativa de lançar candidaturas e... preconceito em
relação a nós, brasileiros. Ainda hoje, em boa parte do mundo, milhões de
pessoas, entre as quais muitos ditos intelectuais, não sabem nada do nosso
país, a despeito da internet onde se pode encontrar informações literalmente
sobre tudo e todos quase que instantaneamente.
Ainda há quem não saiba que o Brasil é o quarto maior
território da Terra, que tem a quinta população e que, bem ou mal, é a sétima
economia mundial. Ainda há quem ache que nossa capital é Buenos Aires. Ainda há
europeus, norte-americanos e asiáticos que supõem que feras selvagens, além de
cobras e jacarés, perambulem pelas ruas de nossas cidades, que eles imaginam
que se trate de meros aldeamentos de índios. Duvidam? Não deveriam! E isso
mesmo após uma Copa do Mundo exibida para um público estimado em dois bilhões
de espectadores e às vésperas de uma Olimpíada que atrairá para cá os melhores
esportistas do Planeta. Se um país, com asx características do nosso, não tem
relevância internacional, não sei quem possa ter.
No que se refere à nossa cultura, então, a desinformação e a
ignorância são calamitosas. Os poucos que sabem algo a nosso respeito ainda
acham que só temos duas manifestações culturais: carnaval e futebol e nada mais.
Ora, ora, ora... Não lhes passa nem remotamente pela cabeça que temos uma
literatura vibrante, inteligente e criativa, que contamos com artistas
excepcionais em todas as artes e que nossos cientistas não ficam nada a dever
aos de parte alguma. Li, recentemente, um artigo, comentando, exatamente, o
fato de nenhum brasileiro haver ganhado um mísero Nobel, em nenhuma das
diversas categorias desse prêmio, de autoria do colunista do jornal “A Gazeta”,
Alfredo da Mota Menezes. À certa altura do seu texto, o articulista observa: “Em
universidades norte-americanas falam que os latino-americanos quase não
contribuem para a evolução da humanidade. Que não se encontra nada que a região
tenha feito ou produzido que ajudou a melhorar a qualidade da vida no mundo. Se
olharmos pelo prisma do prêmio Nobel parece que têm razão”. Pois é, “parece”.
Mas... as aparências enganam.
Se essa gente pensa isso dos latino-americanos em geral,
imaginem sua opinião especificamente sobre o Brasil!!! O chato é que muitos
brasileiros, os tantos que têm o tal complexo de vira-latas, não só não se
revoltam e nem contestam essa opinião, como aplaudem-na e se divertem com ela. Vários países das Américas do Norte (México),
Central (Guatemala e Costa Rica) e do Sul (Argentina, Chile, Peru e Colômbia)
já receberam o polêmico prêmio. E não só de Literatura (embora seja na
maioria), como os chilenos Gabriela Mistral e Pablo Neruda; o guatemalteco
Miguel Angel Asturias, o mexicano Octávio Paz, o colombiano Gabriel Garcia
Marquez e o peruano Mário Vargas Llosa.
Os prêmios para a América Latina foram quinze, ou seja, irrisórios
3% do total. Além dos escritores premiados que citei, os químicos Federico
Leloir (argentino) e Mário Molina (mexicano) foram galardoados. Na área da
Medicina, a Argentina conquistou mais dois prêmios (Cesar Milstein e Alberto
houssay), e a Venezuela um, com Baruj Benasseraf. O Nobel da Paz foi dado ao argentino Adolfo
Perez Esquivel, ao costarriquenho Oscar Arias Sanchez e à guatemalteca Rigoberta
Manchu. E o Brasil, quantos ganhou? Todos estão cansados de saber: nenhum!!! Mas
nenhum brasileiro mesmo foi jamais premiado. Maldito preconceito!!! Voltarei,
certamente, ao assunto.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Caberia um Nobel em qualquer uma das possíveis modalidades. É preconceito sim.
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