A discriminada literatura de língua
portuguesa
A Literatura em língua portuguesa é inferior à exercitada
por escritores que se utilizam de outros idiomas, como o inglês, francês,
alemão, sueco, russo, e vai por aí afora? Claro que não! Quem ousaria dizer
tamanho disparate?! Então gostaria que alguém me explicasse, mas com argumentos
sólidos, qual a razão de um único e solitário escritor que se utiliza desse
belíssimo e rico idioma haver sido reconhecido até aqui com o Prêmio Nobel de
Literatura. Refiro-me, claro, a José Saramago, premiado em 1998, 97 anos após
essa premiação haver sido instituída.
Brasil, Portugal e demais países que adotam nosso idioma,
como Angola, Moçambique, Cabo Verde, entre outros, contam com homens de letras
excepcionais, que nada ficam a dever aos de nenhuma outra parte do mundo em
termos de competência, criatividade, originalidade e tudo o mais que
caracterize uma obra literária digna de permanência. Por que, então, não são
reconhecidos pela Academia Sueca? Seria por desinformação? Seria preconceito?
Ou as entidades responsáveis por propor as respectivas candidaturas não são tão
atuantes como deveriam ser? Creio que se trate, um pouco, de todos esses
fatores reunidos.
Deixando os brasileiros de lado – que são tantos os que já
mereceram ganhar um Nobel de Literatura que é preciso fazer um comentário á
parte, o que farei oportunamente – os escritores de Portugal e de suas
ex-colônias ascendem às centenas. É possível encher várias páginas com os nomes
dos “injustiçados” e, ainda assim, muitos seriam omitidos, por esquecimento ou
desinformação do comentarista. E, creiam-me, não exagero.
Recorrendo, somente, à lista dos ganhadores do Prêmio Camões
– instituído muito recentemente, em 1989 – e deixando de lado os brasileiros
que, reitero, serão abordados em comentários á parte, cito os seguintes
escritores: Miguel Torga (1989), o moçambicano José Craveirinha (1991), Vergílio
Ferreira (1992), o próprio José Saramago (1995, exceção por ser o único reconhecido
pela Academia Sueca), Eduardo Lourenço (1996), o angolano Artur Carlos Maurício
Pestana dos Santos, conhecido como “Pepetela” (1997), Sophia de Melo Breyner
(1999), Eugênio de Andrade (2001), Maria Velho da Costa (2002), Agustina
Bessa-Luís (2004), José Luandino Vieira (2006), o caboverdense Armênio Vieira
(2009), Manuel Antonio Pina (2011) e o moçambicano Mia Couto (2014)..
Nenhum desses mestres do texto literário mereceu, ou merece
o Prêmio Nobel?!!! Ora, ora, ora... Ouso dizer que todos mereceram (e os ainda
vivos merecem), embora fosse impossível, pela natureza da premiação, fazer
justiça a todos. O que acho inconcebível é o fato de somente UM dos integrantes
dessa seletíssima relação, no caso José Saramago, ter sido premiado. Entre os
portugueses que, pela qualidade de sua obra, mereceriam o cobiçado prêmio, e
não ganharam – citando apenas os que estavam em atividade quando o Nobel de
Literatura já existia, ou seja, a partir de 1901 já que a premiação não é de
caráter póstumo – posso citar, por exemplo: Guerra Junqueiro, Raul Brandão,
Fernando Pessoa (como o criador dos heterônimos não foi premiado?!!!), Mário de
Sá Carneiro, Almada Negreiros e Florbela Espanca. E olhem que muitos e muitos
nomes ficaram de fora dessa relação.
Dos escritores portugueses nascidos após 1900, merecem
menção: Agostinho da Silva, Adolfo Casais Monteiro, Joaquim Paços D’Arcos,
Jorge de Sena, Fernando Namora, Eugênio de Andrade, Alexandre O’Neil, Casemiro
de Brito, Antonio Torrado, Vasco Graça Moura, Miguel Esteves Cardoso, Antonio
Pocinho, Paulo Teixeira etc.etc.etc. Com tantas opções – e olhem que omiti os
brasileiros que citarei oportunamente – a Academia Sueca SÓ premiou José
Saramago, como único escritor de língua portuguesa!!!! Está mais do que na hora
dos ilustres jurados olharem com mais atenção para a riquíssima literatura
produzida no Brasil, em Portugal e em suas ex-colônias. Ou estou exagerando??
Quem sabe o moçambicano Mia Couto – que nas casas de apostas da Ladbrokes está
cotado a 50 por 1 – surpreenda o mundo literário, a mídia internacional e os
apostadores e, dessa forma, torne milionários os raros que apostaram nele. Quem
sabe...
Boa leitura.
O Editor.
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Deve ser preconceito.
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