A bola da vez literária
O escritor francês, Patrick Modiano, é a chamada “bola da
vez” literária. Pudera! Há menos de um ano, em outubro de 2014, ganhou o tão
criticado (mas sumamente cobiçado) Prêmio Nobel de Literatura. Surpreendeu a
gregos e troianos. Não era, nem remotamente, o favorito. Pelo contrário, era
uma espécie de “azarão” Fora da França, onde gozava (e goza) de inegável
popularidade, Modiano era, virtualmente, “ilustre desconhecido”. Inclusive no
Brasil. Era... Obviamente, não é mais. Da minha parte, só vim a saber de sua
existência após a conquista do Nobel. Não deveria. Afinal, há já umas três
décadas, a Rocco havia apostado suas fichas nesse escritor, lançando três de
seus romances: “Dora Bruder”, “Ronda da noite” e “Uma rua de Roma”. Foram
publicações que passaram batidas do público e da crítica.. Pouco ou nada se
falou delas e, claro, do seu autor. Ah, se os críticos literários pudessem
prever o futuro! Claro que não podem. Ninguém pode.
A Rocco, certamente sem saber disso, “investiu”, nos anos
80, em três produtos que estão rendendo (e tendem a render muito mais)
dividendos agora. Até o anúncio do Nobel, os três livros de Modiano que citei
estavam fora de catálogo. Quem quisesse adquiri-los, teria que pesquisar
bastante, em sebos. A editora, todavia, oportunamente, relançou esses três
romances. De lambuja, acaba de lançar o livro que havia sido lançado no ano
passado, na França, semanas antes do anúncio do Nobel – que ninguém em sã
consciência, provavelmente nem o próprio Modiano acreditava que seria o
premiado - intitulado “Para que não te percas no bairro”. Proponho-me a
comentar não apenas essa obra, mas as outras do escritor francês, tão logo
conclua as respectivas leituras. Afinal, mesmo não fazendo sinopses, só comento
o que conheço, sempre procurando nuances que passem despercebidas aos críticos
literários.
Além dos quatro livros publicados pela Rocco, a Editora
Record também “apostou” em Patrick Modiano, lançando “Remissão da pena”, com
tradução de Maria de Fátima Oliva do Couto, que igualmente me proponho a
comentar oportunamente, após concluir sua leitura. Como se vê, temos uma “overdose”
desse romancista. No meu caso, é uma espécie de obrigação, para compensar o
fato de não lhe ter dado a devida importância, há trinta anos. Devo ter passado
inúmeras vezes pelos três romances lançados pela Rocco, nas várias livrarias
que freqüento com assiduidade, sem atentar para eles. Pudera! Foram pouquíssimo
divulgados. Aliás, não me lembro de ter visto sequer menção a eles nas
editorias de Cultura de nossos jornais e revistas.
A Record, além de “Remissão da pena”, planeja lançar (talvez
até já tenha lançado e eu não saiba) outros dois romances de Patrick
Modiano: “Flores da ruína” e “Primavera
de cão”. Ah, ainda devo pelo menos registrar que a Cosac Naif também lançou uma
obra desse escritor e cerca de dois meses antes da sua consagração com o Nobel,
ou seja, em agosto de 2014. Trata-se de uma obra infanto-juvenil intitulada “Filomena
Firmeza”. Se não foi premonição da editora, foi uma baita tacada de sorte. Queiram
ou não, o Prêmio Nobel de Literatura pode ser comparado à famosa fábula da
raposa e as uvas. Os que desdenham dele, nutrem, certamente, secreto desejo
(quando não obsessão) de conquistá-lo. Quando não conseguem... dizem (ou pelo
menos pensam): “eu não queria mesmo! Afinal, estão verdes”.
Aliás, essa fábula tem dupla “paternidade”. A tradição a
atribui ao fabulista grego Esopo. Todavia, o francês Jean de La Fontaine
reescreveu-a, com uma ou outra alteração, mas mantendo o espírito da original.
Daí muitos atribuírem-lhe a paternidade dessa fábula, o que não é exato e nem
justo. Digamos que seja da dupla. É certo que o Nobel de Literatura nunca é
consensual (e nem poderia). O mundo das letras é riquíssimo e as obras
produzidas e publicadas anualmente são em quantidade (e em um alto percentual,
em qualidade) altíssimas. Há inúmeros escritores que mereceriam ganhá-lo, sem
que se possa dizer (salvo um ou outro caso) que o ganhador não o tenha
merecido. E o prestígio que o prêmio dá (sem falar no dinheiro, que é
considerável, em uma atividade que em raros casos é financeiramente
compensadora) é incomparável. Basta ver o que está acontecendo com Patrick Modiano
que, subitamente, conquista a “imortalidade” literária. É, sem tirar e nem por,
a “bola da vez” da Literatura.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Quero conhecê-lo. Aguardo a continuação.
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