Ao sabor das coincidências
“A literatura é uma arte que tem fortes representantes em
Santa Catarina”. A afirmação é do escritor Luiz Carlos Amorim, coordenador do
grupo literário “A ilha” e membro da Academia Catarinense de Letras. É, portanto,
pessoa amplamente habilitada a falar a respeito, por viver o cotidiano dessa
realidade e, por isso, ter pleno conhecimento de causa. Está no seu habitat. No
meu caso, não vou ao extremo de afirmar que eu seja especialista na matéria.
Não sou. Acompanho, sim, o panorama literário catarinense (como ademais, os de
outros Estados e países), contudo, à distância. Embora busque me atualizar a propósito, e por
gosto pessoal, não por qualquer imposição ou obrigação profissional, sou
incapaz de apreender o conjunto.
Aproveito o ensejo e abro um longo parêntese para tratar de
algo que já tratei “n” vezes, mas que julgo oportuno reiterar, porquanto muitos
continuam fazendo observações sobre meu procedimento. Há já bom tempo, alguns
indivíduos que se dizem meus leitores vêm me criticando pelo fato de escrever
na primeira pessoa e de, volta e meia, ao referir-me a determinados livros e
seus autores trazer á baila experiências pessoais,dando-lhes importância que,
no entender desses críticos, de fato não têm. Interpretam (e afoitamente) esse
meu modo de escrever como manifestação de arrogância e até de pedantismo. Respeito
essas observações, contudo, discordo. Aliás, tais opiniões são emitidas por
quem não me conhece – e já nem digo pessoalmente, mas até literariamente. Não
são minhas leitoras, embora afirmem que sim.
O fato de expressar-me na primeira pessoa é, isto sim,
manifestação de humildade. Faço-o quando expresso opinião estritamente pessoal
a propósito de algum assunto. E esta pode, claro, ser equivocada (como algumas
vezes é). Não é justo, pois, dar a entender, mesmo que implicitamente, que seja
de outrem, para posar de erudito, de infalível, de sabe tudo, o que não sou.
Quanto ao relato de minhas experiências, é uma forma de emprestar originalidade
a temas hiper-batidos, expostos e repetidos ad náusea por “n” comentaristas,
sem nada de novo a acrescentar. Contudo, o que vivi, nenhuma outra pessoa viveu.
Não, pelo menos, com os mesmos personagens, datas, locais, circunstâncias
etc.etc.etc.
Confesso que tempos atrás resolvi mudar esse meu estilo de
me expressar, para atender a esses críticos gratuitos (por coincidência, todos
anônimos ou, ostensivamente, “fakes”, como se diz no jargão de internet).
Ocorre que meus verdadeiros leitores, aqueles que estão em permanente contato
comigo por e-mail e por tantos outros meios de comunicação, a princípio
estranharam a mudança e, na sequência, praticamente “exigiram” que eu voltasse
a escrever como sempre escrevi. Como meu compromisso é com essa maioria que me
prestigia, incentiva, corrige, aplaude, enfim, participa de alguma forma da
minha atividade de redator, a vontade dessas pessoas generosas e fieis, óbvio,
prevaleceu e sempre prevalecerá.
Voltando ao tema das minhas reflexões de hoje, destaco que
meu primeiro contato com escritores catarinenses se deu há sessenta anos (puxa,
já??!!!). Eu tinha doze anos de idade e fui presenteado por um saudoso tio com
o livro “Broquéis”, do poeta João Cruz e Sousa. “Devorei-o”, literalmente. Fiquei
encantado com seus versos castiços, redondos, sonoros e de profundo conteúdo
espiritual. Eu, que então já “namorava” com a poesia, perpetrando canhestros
versos, “pavimentei” meu caminho nesse nobre gênero sob a influência do imortal
“cisne negro”. Adquiri, já no fim da adolescência, todos os livros de Cruz e
Sousa, que “revisito” com rigorosa constância a todo o momento.
Por volta dos 18 anos, conheci outro grande escritor
catarinense, no caso, Alfredo d’Escragnolle Taunay. A princípio, li seu relato
histórico de um episódio da guerra do Paraguai, o livro “A retirada da Laguna”.
A seguir, por indicação de um amigo, adquiri o romance “Inocência”, com o qual
deliciei-me. Vieram, na sequência, Luís Delfino, Guido Wilmar Sassi, Cristóvão
Tezza, Deonísio Silva, Silvio Back e Werner Zotz. Todos, a rigor, nomes de
projeção nacional. Quando meu interesse literário voltava-se para autores de
outros Estados e países, algumas coincidências faziam com que meu foco se
voltasse, outra vez, para autores catarinenses. Em 1985, por exemplo, quando eu
era editor do Correio Popular de Campinas, um amigo presenteou-me com livro do
poeta Lindolfo Bell. Depois, por indicação, vieram obras de Edla Van Steen, de
Péricles Prade e de Virgílio Várzea. A essa altura, já estava “enfronhado” na
rica e variada literatura catarinense.
Mas a coisa não parou por aí. Em 1992, por indicação do meu
saudoso e talentosíssimo amigo Mauro Sampaio (com o aval do não menos amigo e
não menos saudoso Maurício de Moraes, o poeta de Ouro Fino), fui eleito para a
Academia Campinense de Letras, onde sou titular da cadeira de número 14. E eis
que o acaso (bendito acaso!!!) me tornou companheiro de outra ilustre
catarinense, a poetisa (e professora) Arita Damasceno Pettená. E a eles foram
se juntando, por circunstâncias várias, outros escritores de Santa Catarina,
como Salim Miguel (o libanês mais catarinense, na verdade, mais biguacense do
mundo, por ter se fixado no Estado desde os dois anos de idade e lá permanecido
até hoje), como o teólogo Leonardo Boff, como Emanuel Medeiros Vieira, como
essa escritora de que sou admirador incondicional que é Urda Alice Klueger e...
como o poeta, professor, romancista, historiador e cronista de escol Harry
Wiese. É sobre ele que tratarei na sequência.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Conheço seu estilo, mas, talvez por distração, não percebi sua mudança de estilo. Sempre aproveito bastante na leitura dos seus textos. Tem vocabulário rico, não empolado, e poucas vezes me distraio pelos parágrafos. Já o considero meu amigo há vários anos (2007), assim como Urda.
ResponderExcluir