No
pasarán!
* Por Daniel
Santos
Chegou, afinal, a vez dos gordos.
Alguma surpresa? Não, se levarmos em conta que este mundo oscilante entre
obesidade e anorexia procura um inimigo, haja vista a quantidade de câmeras por
toda parte!
Os tempos são de paranóia – a
impossibilidade de comunicação. O próximo é um estranho, suspeito de algo
terrível ainda a ocorrer. Pois, então, sorria, você está sendo filmado. Aliás,
sorria sempre, conformista.
Não bastasse o agressivo cerco aos
fumantes, querem pegar também os gordos. Mas é claro! Como suportar excessos
num mundo que consagra o nanismo, a contenção, o três-em-um, o fast-food sem
sabor?
No entanto, por outro lado,
multiplicam-se programas culinários na tevê, receitas econômicas tipo
vapt-vupt, dietas miraculosas. E tudo para o seu bem, que fique claro. Todos
querem o seu bem-estar e tranqüilidade.
Daí, a promissora indústria da
segurança: chaves, cadeados, fechaduras duplas, alarmes, câmeras sintonizadas
ao celular que mostram tudo na net ... Mas não, não fique nervoso, senão você
come e engorda.
Se engordar, perderá aquela imagem
agressiva e não encontrará emprego. Ademais, pagará um extra na passagem de
avião, embora sem direito a esse extra no seguro, porque você é gordo e não tem
direitos.
Você é lento num mundo aflito,
compulsivo. Você descende de Dioniso, que pregava o êxtase. Algumas taças do
tinto, e pronto! Agora, ecstasy e viagra (quando não, crack!) – ícones da tal
“modernidade”.
Agora, é sorrir, sorrir muito e
obedecer, procurar se manter nos trilhos, cordato. A coerção está bem
disfarçada, glamurizada até!, e reforçada por estatísticas médicas, pois todos
querem o seu bem.
Emagreça, pois. Fácil. Repare na
esbeltez dos soldados, terroristas, mercenários. Sua silhueta nem se deve tanto
à rigidez da disciplina. Não, não. É que eles aprenderam a pegar em armas. Considere
isso. Hein?
* Jornalista carioca. Trabalhou
como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da
"Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e
"Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o
romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para
obras em fase de conclusão, em 2001.
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