Fazenda velha
* Por
Ana Deliberador
Cheirosa, úmida,
linda. Árvores centenárias, troncos que – não raras vezes – quatro homens,
braços esticados, não conseguiam envolver. Copas competindo, na escalada em
direção ao sol. Folhas chacoalhando ao vento deixando vãos por onde entravam
raios de luz para formar mosaicos brilhantes, de reflexos azuis, amarelos,
brancos cinzas, vermelhos…Cipós, com várias dezenas de metros, desciam até o
solo. Bromélias. Orquídeas.
Ah, que fartura!
Jabuticaba, jaracatiá,
ora-pro-nóbis, araçá, ingá, gabiroba. Juçaras, derrubadas às centenas para
colher seu palmito – refogado, que delícia! – e, com seus troncos eretos,
construir casas.
Bugios, tamanduás,
jaguatiricas, onças pintadas, tucanos, catetos, araras, e toda sorte de
pequenos pássaros. E a pesca! Pintados, piabas, cascudos, lambaris. Dourados na
piracema…que espetáculo!
Nos dias reservados ao
abastecimento da despensa, homens saiam à caça de antas, veados, capivaras.
Queixadas eram deixadas na água corrente, um dia inteiro, para perder o gosto
forte. Toda carne era preparada e guardada em latas grandes, cheias de gordura.
Aos poucos a mata ia
dando lugar a pastagens para bovinos e plantações de milho, feijão, arroz,
café. Muito café. Nos quintais, galinhas, patos, gansos, galinhas d’angola,
porcos, cabritos. Perus, para o Natal!
Verduras frescas,
sempre: hortas eram vitais.
Garapa era feita em
moendas puxadas por animais. Da garapa, o melado. Do melado, o açúcar. “Fazia
garapa e ponhava ferve. Despois ia esquentando, ia tirando a sujera com um
prato de aluminho furadinho, preso na ponta dum pau. Isso até engrossá. Quando
tava raspando despejava num cocho de pau e batia inté sucará. Notro dia punha
num saco e dexava escorrê a umidade. Tava pronto.”
E o sal?
Ah, o sal…iam na venda
comprar!
* Professora, pintora e escritora
Nenhum comentário:
Postar um comentário