O detalhe aquático
* Por Rodrigo Ramazzini
O Norberto, ou o “Nóia”, como fora
cognominado por seus amigos, tinha como hobby a pescaria. Sempre aos finais de
semana, tirava algumas horas para se dar tal regalia. Era para “relaxar”, como
sempre ressaltava. Naquele final de semana, mais precisamente de sexta-feira
para sábado, ele iria pescar no açude dos Mouras, lá no Cerro dos Abreus, 70 quilômetros de distância da sua casa.
Isso fora o que dissera para a esposa, mas a bem da verdade, ele fora passar a
noite em um motel, com a sua primeira amante.
Norberto pegou todos os apetrechos que
uma boa pescaria exige, o seu velho casaco, a cachacinha para aquecer-se ao
gélido ar da madruga, despediu-se da esposa e partiu. A esposa habituada com as
pescarias do Nóia, nem se importara com mais essa, afinal, ela era apreciadora
e conhecedora da arte de cozinhar um pescado. Na saída, ainda gritara:
- Traz uns peixes bem grandes, pois os
faremos no almoço de sábado...
O Norberto saíra de casa na
sexta-feira, por volta das 18h00min, e prometera voltar no sábado, perto da
09h00min da manhã. Partira de casa e fora direto para a residência da amante,
pegou-a, e rumou para o motel. O sono “anestésico” que sentimos após o ato
sexual atingira também o Nóia, que acordara às 09h00min da manhã, com a
faxineira batendo à porta. Despertara a amante, vestira-se o mais rápido
possível, pagara o motel, largara-a em casa, sob o apreciar dos vizinhos,
olhara o relógio, marcava 10h30min, parecia “andar” mais rápido que o normal,
estava nervoso, suava frio, partira para a peixaria, furara a fila, pegara o
primeiro peixe que encontrara, resfolegara pela última vez, e enfim, às
11h15min, abrira a porta de casa.
- Bonito, seu Norberto! Isso são horas?
- Pois é, Nega (Assim ele chamava a
esposa).
- Aonde tu andavas?
- Fiquei pescando até mais tarde,
começou a dar Mussum por volta das 08h00min, aí resolvi ficar... E... E... Já
aproveitei para limpar os peixes, isso!
Um ar álgido parecia ter transcorrido
todo o corpo de Norberto, arrepiou-se, perguntou-se sufocadamente, com a
garganta seca: - Será que eu comprei Mussum? E se ela perguntar? Refletiu...
Não se lembrara, mas diria que os que pescara eram pequenos, e soltara. A
esposa do Nóia desconfiara, Norberto estava com uma cara de quem dormira maravilhosamente
bem, mas não comentara, apenas o indagara:
- Alcança-me a sacola com os peixes?
Obrigado! Conseguiu pescar no tal açude dos Mouras?
- Consegui! Tu tinhas que ver como é
grande...
- É... Retorquiu a esposa, soerguendo
as sobrancelhas, olhando dentro da sacola de peixes.
- O que foi? Replicou o Norberto.
E ela redargüiu:
- Esse açude é dos bons mesmo... Dá até
Tainha!
É preciso tempo para inventar uma boa história, para mentir bem. No acelerado dos fatos, acabou cometendo um erro crasso.
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