sexta-feira, 5 de junho de 2015

Deslocamentos líricos

* Por Celeste Fontana


Ser poeta
É cavalgar o espaço nas asas da águia
Escancarar a alma e ser coração
É sonhar o absurdo, superlativo do amor
Vaguear por céus e abismos
Olhar-se no espelho e ser quem não é
É tecer trilhas mentais e ir
Ir além...

Ser poeta é ser confins e superfície
É orbitar Netuno e a lua
Dos pássaros roubar as asas e o vôo
Subir os cumes e enxergar os vales
Delirar-se com figos dourados
E sentir na boca o gosto do sol

Ser poeta é amar o mar e amar
Se embriagar das gotas de estrelas
E beber o aroma das tardes
Alcançar a cor das borboletas
E sorver da vida o mel e o fel

Ser poeta é se vestir de poesia
E ter arrebóis de loucura
É viver a vertigem da aurora
E espreitar a morte em vida
E quando o tempo termina
Sentir o efêmero
E o contrário eterno

Ser poeta é ser a própria poesia
E ser o fio da dor que o finda

* Escritora e poetisa



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