Falta de energia elétrica
*Por
José Calvino
Num pequeno bairro, ironicamente
chamado de Novos Rumos, recentemente faltou energia elétrica por aproximadamente
quatro horas. Com isso, consumidores, comerciantes e a população como um todo
arcaram com grandes prejuízos, além do diário desconforto que vive aquele povo.
Os pequenos comerciantes ficaram preocupados com o estrago dos alimentos
perecíveis. Mas, o meu amigo Azambujanra, como sempre espirituoso , tentou até
o impossível e o possível para dar continuidade ao comércio de vendas. Tendo o
mesmo no seu acervo três balanças: uma que os então donos das vendas pesava nas
velhas “Filizola”, a outra com dois pratos em equilíbrio: de um lado pesos de
ferro e no outro mercadoria. A terceira era manual (antigamente usada pelos
vendedores de macaxeira, etc), esta suspensa com o dedo indicador da mão
esquerda e com a mão direita colocava ou tirava conforme a setinha que marcava o peso desejado pela
freguesia. Bom, com permissão de um dos donos de mercado, ele pegou um caderno
de anotações e começou a dar aulas às moças dos caixas, que já estavam
acostumadas com a nova tecnologia de
registrar pelo computador com leitura pelo código de barras, pesar mercadorias,
cartão de crédito, soma total discriminados... Azambujanra, recordando os
velhos tempos, iniciou as suas aulas assim:
“Minhas queridas, eu sei que vocês estão
achando um mau negócio, é claro, não se compara com o meu tempo (anos 50),
quando vocês não sonhavam nem nascer. O que vou ensinar é simples, basta saber
matemática, sobretudo as quatro operações de conta, vamos lá? Primeiro, os
clientes fazem as compras como se não estivesse faltando energia elétrica e as
mercadorias que são normalmente pesadas na hora serão pesadas nas balanças
citadas. Segundo, os clientes ao se dirigirem aos caixas vocês irão anotando os
preços das mercadorias, com ajuda, é claro, de alguns funcionários, somando o total em dinheiro para fins de
prestação de contas... Eu sei que assim é muito mais trabalhoso. Mas, antes que
me perguntem quanto ao pagamento pelo cartão de crédito, este quem possui pode
passar nas máquinas móveis já carregadas, que duram umas horas, o espaço de
tempo em que tudo deverá se resolver normalmente. Alguma dúvida?
- E nós vamos
trabalhar à noite no escuro? – perguntou uma dos caixas.
- Vocês poderiam
acender os candeeiros, mais eles não mais existem, então o jeito é acender
velas – disse Azambujanra sorrindo.
Quem lê esta crônica
(valendo para todo Brasil), e por coincidência for pequeno comerciante, não
terá alguns prejuízos que poderiam ser causados nas possíveis faltas de energia
elétrica. A meu ver foi gratificante a vivacidade do amigão e agradável companheiro
de longas datas.
*Escritor, poeta e
teatrólogo pernambucano. Vejam e sigam Fiteiro Cultural: Um blog cheio de
observações e reminiscências – http://josecalvino.blogspot.com/
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