Pensamento: prisão e liberdade
* Por
Mara Narciso
Penso, logo me
aprisiono. Não raro, a pessoa crê em seus devaneios, tece idéias, fecha o cerco
em torno das suas ilações, e quando percebe, está numa zona perigosa, entre o
real e o imaginário. Muitas perdem o tino, a razão e a sanidade, na busca de
fantasmas, medos e pesadelos, vida afora. Não raro, o que era suposição, cresce
e enlouquece, vira uma quase verdade, e em muitos casos, a única realidade
percebida. O pensamento gera sensações boas ou ruins, e vale relembrar que
“sentimos o que pensamos e pensamos o que queremos” (“Seus Pontos Fracos”, Dr.
Wayne W. Dyer).
Doenças psiquiátricas,
ao contrário, não são escolhas e podem se manifestar com delírios que são
falsas convicções; alucinações que são uma situação em que a pessoa vê um
objeto que não existe, e outras sensações irreais diversas, que fazem parte de
doenças mentais, fruto de pensamentos distorcidos. A Síndrome do Pânico é uma
manifestação física incontrolável de uma ameaça não verdadeira. As fobias são
medos exagerados e não condizentes com o risco real. A mente pode atingir um
ponto de perturbação tal, que sofre, não distinguindo o falso do verdadeiro.
Fugindo da
psiquiatria, e voltando ao dia a dia, os medos podem cegar, amordaçar, amarrar
os punhos, sendo que, em algumas vezes é a própria pessoa quem fecha suas
algemas. O poder do pensamento é impositivo, podendo ser positivo ou negativo,
quando, dependendo do status, constrói ou destrói. E nem sempre, ainda que se
tente, é possível transformar o medo em coragem, a fraqueza em força.
Por óbvio, deve-se
usar a mente de forma positiva, usando-se técnicas para se obter esse
resultado. Os demônios até podem ser os outros, mas os pensamentos ruins estão
na parte de dentro. Ainda que neguemos, um elogio de alguém, uma análise
afirmativa de algo que somos, fizemos ou parecemos, ajudam a construir nova
maneira de pensar.
Quem foi aprisionado
por outro, seja por delito ou contingências como casamento, menoridade,
profissão ruim ou perseguição pode, caso consiga, usar o pensamento para sair
dali, viajar, voar, ser livre. No caso dos escravos, o corpo seguia amarrado,
mas o pensamento sempre foi e sempre será livre. Então, que tal gerar
pensamentos positivos, de paz, de amor, de corpo são, para enfrentar a vida e
suas agressões com mais coragem e propriedade?
Quando é preciso
passar por um procedimento desagradável, sejam exame, cirurgia, tratamentos ou
ficar num CTI, por exemplo, sugere-se sair dali em pensamento. É inevitável?
Avante, mas não estarei aqui. Meu pensar me leva para onde eu quiser. Sou livre
para ser livre.
A menininha de 12 anos
estava há meses no hospital, acometida por uma doença misteriosa, a Síndrome de
Guillain Barré, que paralisava todo seu corpo, até mesmo sua respiração. Certo
dia, consciente, após uma recaída, novamente no CTI, traqueostomizada e no
respirador há vários dias, magrinha, atrofiada, corpinho rígido e gelado, mesmo
sob os cobertores, mostrava-se desesperada. Chegando perto daquela criança
desamparada, sofrida, passando a mão em seu cabelo, apertando firme, tentando aquecer
seu coração através da sua mão pequena, uma amiga, que a visitava todos os
dias, falou assim: Escute, preste atenção ao que vou lhe falar. Pense, pense
que está longe desse sofrimento. Vamos sair para um dia ensolarado. Lá fora
está quente, o sol brilha, o céu está azul. Veja as nuvens, lá adiante tem um
rio de águas frescas, com muito verde ao seu redor. Vamos, corra comigo, vamos
colher flores do campo e depois nos sentar naquela pedra e molhar os pés na
água. Que delícia! Beba um pouco dessa água. Você pode, a gente pode fazer
isso. Seu pensamento é livre, ele pode levar você para onde você quiser. Pare
um pouquinho de sofrer. Venha! E então, depois de ouvir diretamente em seu
ouvido uma cantiguinha, após alguns minutos de conversa, a menina conseguiu
relaxar, descrispar corpo e rosto, parou de chorar e tentou sorrir. Era bom ver
aquela transformação.
Para dominar o
pensamento é preciso treinar. Quanto à menininha da história, hoje é uma mulher
e mãe. Recuperou-se, casou, e pode passear onde quiser, em pensamento e de
verdade. Pode até ser que pensar de forma positiva não mude seu destino, mas
altera sua maneira de enfrentá-lo. E então, vai deixar seu pensamento trazer
liberdade ou prisão? Propiciar prazer, confiança e fé, ou medo e desespero? A
escolha é sua. A escolha é nossa. Venham comigo!
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Nós somos aquilo que pensamos: eis a mais irrefutável verdade. Isso, levado a sério, é mais que autoajuda barata.Grande abraço, Mara.
ResponderExcluirO difícil mesmo é conseguir domar o pensamento. Quem já tentou, sabe que é um desafio. Algumas vezes conseguimos deixar para pensar mais tarde em algo que nos incomoda. E assim vamos melhorando nossas horas. Agradeço a atenção do comentário, Marcelo.
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