A
festa do “Nego” e da Sandra
* Por Rodrigo
Ramazzini
Amigos do Literário, vivenciei esta
história há dois anos. Portanto, é verídica. Gostaria de compartilhar com
vocês. Aproveitem.
Cheguei observando atentamente o lugar,
pois não era sabedor do local exato da festa. Olhei os vários salões festivos
existentes e, dentro de um deles, avistei o conhecido Paulão, simpático motorista de ônibus. Entrei e
dirigi-me diretamente a ele, a fim de confirmar se estava no aniversário do
Carlos, habitualmente chamado de “Nego”.
Recebido muitíssimo bem pelo Paulão, e
com a confirmação, estava eu na festa-surpresa do “Nego”. Sentei-me junto à
minha namorada e, logo, a banda formada pelos amigos do Carlos começou a tocar.
Os convidados chegaram. O assunto que tramitava nos pequenos círculos de
“bate-papo” que se formaram era como o “Nego” reagiria ao chegar à festa. Afinal,
era surpresa, tudo organizado, às escondidas, por sua esposa, ou futura esposa
(posteriormente explico), a Sandra.
Todos os convidados a postos, luzes
apagadas, Sandra chegou com Carlos. Ao entrar pela porta, o “Nego” assustou-se,
chegando a saltar para trás. O cântico de parabéns ecoou no salão. A ficha caiu
para o “Nego”. Notava-se, em suas expressões, aquele “Eu não acredito que vocês
fizeram isso comigo” e um brilho no olhar, por estar entre amigos. Abraços e
beijos foram distribuídos, em cumprimentos.
Estávamos já sentados à mesa, esperando
o jantar, quando Sandra pediu a palavra. Viria então a segunda surpresa da
noite. A primeira, claro, fora o aniversário. Em seu pronunciamento inicial,
agradeceu a todos que a ajudaram na realização da festa, bem como aos amigos
por ali estarem. Posteriormente, enalteceu o seu amor pelo “Nego”, o “Vida”
como ela o chamava. A emoção comoveu a todos. O olhar de Sandra era o atestado
de seu amor por Carlos, o brilho verdadeiro da paixão.
Segurada a emoção, após trocar alguns
beijos com o “Nego”, Sandra seguiu no seu discurso:
- Quando eu vi esse homem pela primeira
vez, eu disse a mim mesma: eu tenho que comer esse “Nego”...
Risadas de todos à mesa. E seguiu ela
contando um pouco das dificuldades do namoro, etc. Foi que então:
-... Eu e o Carlos achamos que o papel
(referindo-se a casamento) só serve para unir bens, e não o amor.
E chamou uma menina que estava sentada
à mesa, que trazia as alianças. Note-se aqui que a festa começava a ficar ao
contrário. Inicialmente, era para ser o aniversário do “Nego”. Agora, virou
casamento, sendo que a noiva é que pediu a mão do noivo. Ah, tudo isso era
surpresa para o Carlos também.
Literalmente, o “Nego” ficou “branco”,
sem palavras. Ele, que é o representante da calma dentre os humanos, ficou
nervoso. Trocaram alianças. A banda tociu a música “Eu sei que vou te amar, por
toda a minha vida” de fundo. Então, o Paulão, que era o churrasqueiro de
plantão, gritou para o “Nego”:
- Beija logo, se não o churrasco vai
queimar!
Bela refeição realizada. Tomava uma
cervejinha, quando um dos amigos do casal pediu a palavra. Já sabedor do que ocorreria
no “aniversário”, e gozador por natureza, não perdeu a oportunidade de
satirizá-los. Primeiramente, felicitou o casal pela união, e se dizendo
representante dos amigos, entregou alguns presentes em nome de todos. Casamento
para alguns é pôr uma “coleira”. Então, de presente, o “Nego” recebeu uma
coleirinha amarelinha, com um “Sandrinha” timbrado em preto. Todos caíram em
gargalhadas, exceto o amigo que os presenteava, que fazia cara de quem estava
fazendo algo importantíssimo. Para a Sandra, o presente foi uma corda, para ela
soltar mais o “Nego”, e não levá-lo tanto no “cortado”. O meu maxilar doía de
tanto rir. Penso que o de todos.
Casamento sem que a noiva esteja
trajada a rigor não é casamento. Sem o vestido, a solução foi pegar a toalha de
renda da mesa. Enquanto arrumavam a noiva no banheiro, correu-se até a árvore,
em frente ao salão, e confeccionou-se o buquê. A emoção tomou o salão quando a
noiva saiu do banheiro, com uma toalha de mesa como véu, e um buquê de galhos
de árvore. Até “aia” tinha. O “Nego” a esperava, emocionado por ver sua noiva
tão linda. Elegeu-se, dentre os convidados, o padre, que abençoaria o
matrimônio. O detalhe é que eles já trocaram as alianças antes da bênção do
“padre”.
O arroz sempre surge simbolicamente nos
casamentos. No do “Nego” e da Sandra não foi diferente. A única diferença dos
demais é que o arroz estava cozido, nada mais que isso. “Banhou-se” então o
casal.
Diz a tradição que quem pega o buquê da
noiva é a próxima a casar. Então, para ajudar a desencalhar uma moça,
designou-se que apenas ela tentaria pegá-lo. Seguiu-se o ritual típico dessa
situação. Ameaçou-se uma vez, duas, e foi arremessado. Via-se a esperança
brotar no olhar da moça quando ela, solitariamente, agarrou o buquê.
Depois destes episódios – diga-se de
passagem, está tudo gravado – a banda voltou a tocar, animadamente...
* Jornalista e cronista
E que o amor dos dois tenha durado para sempre.
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