Resgate da memória de um ícone literário
A Literatura Brasileira é riquíssima, posto que nem todos
saibam ou mesmo admitam. Contudo, é pouco divulgada pelos grandes veículos de
comunicação. Pudera! Vivemos em um país de dimensões continentais e só muito
recentemente passamos a contar com a internet, que nos aproxima e nos permite
nos informarmos adequadamente sobre personalidades (e grandes escritores) fora
de nosso âmbito doméstico. Principalmente os que são justamente reverenciados
em seus respectivos Estados de origem, mas ignorados no eixo Rio-São Paulo.
Graças à rede mundial de computadores pude “remendar”,
recentemente, minha olímpica ignorância a propósito de ases das letras não tão
divulgados por aqui, embora alguns contem até com projeção internacional. É o
caso do jornalista e escritor goiano José Veiga – que assinava seus trabalhos
literários (e seus livros) como José J. Veiga – nascido em Corumbá de Goiás em
2 de fevereiro de 1915 e que faria, portanto, cem anos amanhã, caso estivesse
vivo. Infelizmente não está. Faleceu, em 19 de setembro de 1999, no Rio de
Janeiro, em conseqüência de câncer no pâncreas e complicações causadas por
anemia.
A data, para mim, passaria “em branco” e eu conservaria
minha ignorância a respeito, não fora a providencial e bem vinda intervenção da
Doutora Mara Narciso – médica em Montes Claros, jornalista de inegáveis
predicados e de muito talento, além de refinada escritora, como atestam seus
brilhantes textos publicados em vários espaços da internet, inclusive neste
nosso, onde é, há um bom par de anos, assídua colunista fixa – que me forneceu
esclarecedoras pistas a propósito de José J. Veiga. Foram essas fontes
informadas que me levaram ao conhecimento (se não pleno, pelo menos bastante
razoável) de um dos mais importantes ficcionistas da rica (e tão pouco divulgada)
Literatura Brasileira. Concluo que, embora me considere razoavelmente
informado, conheço, se tanto, só 5% do mínimo que deveria e gostaria de
conhecer.
Mara forneceu, sobretudo, informações sobre duas crônicas de
Luiz de Aquino, ambas publicadas no Diário da Manhã de Goiânia – uma datada de
1º de fevereiro do ano passado e outra fresquinha, de hoje – a propósito dessa
ilustre personalidade, que até então eu desconhecia, ambas sumamente
esclarecedoras, já que o autor dos dois textos privou da amizade do escritor.
As duas estão em mãos, bem à minha frente. Mas agora conto com tanta informação
sobre José J. Veiga, que a maior parte nem poderá ser utilizada, por falta de
espaço nestas nossas informais reflexões diárias.
E por que esse ficcionista (sobretudo, contista) é tão
importante? Não haveria exagero nessa avaliação? Não!!!! José J. Veiga (que
estreou um tanto tarde em literatura, aos 44 anos de idade, em 1959) é
considerado um dos maiores autores em língua portuguesa do realismo fantástico.
Era tão habilidoso que conseguia fazer crítica política e social com lirismo e
humanidade, sem deixar, no entanto de ser incisivo na dose exata. É uma
façanha! Tentem fazer isso e verão como é complicado. José J. Veiga publicou
pelo menos quinze livros, boa parte dos quais no exterior: em Portugal,
Espanha, México, Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Noruega.
Começou a carreira já premiado. Seu livro de estréia, “Os cavalinhos de
Platiplanto”, contendo doze contos, ganhou o Prêmio Fábio Prata.
Luiz de Aquino revela, em uma das suas citadas crônicas,
que, apesar de reconhecido e admirado pelo seu imenso talento, José J. Veiga
era sumamente modesto. E, mais, era tímido. Isso não me surpreende. Os gênios
são, salvo uma ou outra exceção, discretos e comedidos. Pelo conjunto de sua
obra, o escritor goiano recebeu, em 1997, o Prêmio Machado de Assis, da
Academia Brasileira de Letras, além do Jabuti.
Se no eixo Rio-São Paulo pouco, ou nada se fala desse
insigne autor, o mesmo não ocorre em seu Estado natal. Exemplo? A rodovia
estadual GO-225, que liga a cidade em que nasceu a Goiânia, hoje ostenta seu
nome. Cerca de nove meses antes de sua morte, em 31 de janeiro de 1999, ele
recebeu consagração popular. Um júri escolhido pelo jornal goiano “O Popular”
(com o qual já tive o privilégio e a honra de colaborar anos atrás), incluiu
seu livro “A hora dos ruminantes” (publicado em 1966), por unanimidade, como
uma das vinte obras mais influentes de todos os tempos de escritores goianos.
Que a data de 2 de fevereiro, que assinala o centenário de
seu nascimento, seja marco de ampla divulgação de seu nome e de sua obra por
todo o território nacional. Da minha parte, sinto-me privilegiado por poder
preencher mais uma lacuna – entre tantas – da minha ainda escassa cultura
literária, incorporando mais um ícone à extensa relação dos meus escritores
prediletos, até por ser especialista, mestre e inovador do gênero que escolhi
para centralizar minha atividade em Literatura: o conto.
Para seu conhecimento, amável e paciente leitor, relaciono
os livros publicados por José J. Veiga: “Os Cavalinhos de Platiplanto” (1959);
“A Hora dos Ruminantes” (1966); “A Estranha Máquina Extraviada” (1967);
“Sombras de Reis Barbudos” (1972); “Os Pecados da Tribo” (1976); “O Professor
Burim e as Quatro Calamidades” (1978); “De Jogos e Festas” (1980); “Aquele
Mundo de Vasabarros” (1982); “Torvelinho Dia e Noite” (1985); “A Casca da
Serpente” (1989); “Os melhores contos de J. J. Veiga” (1989); “O Almanach de
Piumhy” - Restaurado por José J. Veiga (1989), “O Risonho Cavalo do Príncipe”
(1993); “O Relógio Belizário” (1995); “Tajá e Sua Gente” (1997) e “Objetos
Turbulentos” (1997). Como se vê, é uma obra farta (para quem começou a fazer
ficção tão tarde) e de profundo conteúdo estilístico e filosófico, que fez do
seu autor, com toda justiça, um dos maiores (se não o maior) autores em língua
portuguesa do realismo fantástico.
Boa leitura
O Editor
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Que bom! Agradeço a citação. Vou mostrar para Luiz de Aquino a sua homenagem, justa e no tempo certo.
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