Padre
Cícero e o excesso ou escassez de chuvas em São Paulo
* Por
Mouzar Benedito
Há algum tempo,
publiquei na Revista do Brasil uma crônica falando sobre o excesso de enchentes
em São Paulo, e nela citei a teoria de um amigo, o Luizão, dono de um bar e
restaurante que eu frequento. Paranaense, casado com uma pernambucana, ele
sempre contrata nordestinos para seu estabelecimento.
Na época, ele dizia
que os nordestinos que enfrentavam secas brabas em suas terras, iam em romarias
a Juazeiro do Norte, e pediam ao Padre Cícero que mandasse chuva para eles.
O problema no
atendimento aos pedidos deles era a vagareza que a coisa tramita lá pelas
bandas do paraíso. Não é só no Brasil que a burocracia é grande e lenta,
acredita o meu amigo Luizão. Até no céu tem essas coisas.
Assim, os coitados que
haviam feito pedidos de chuva ao Padre Cícero, às vezes fazendo até promessas,
cansavam de esperar e a chuva não vinha.
Demorava muito para
que os pedidos dos romeiros chegassem ao padre capaz de fazer muitos milagres.
Mas quando o pedido
chegava, para compensar o atraso, o padre milagreiro mandava chuva pra valer,
muita chuva.
E a chuva era mandada
pra aquelas pessoas onde elas estivessem. Como muitos e muitos deles já tinham
se mudado para São Paulo, chovia aqui tudo o que choveria normalmente mais a
chuva pedida pelos nordestinos que não aguentaram esperar em suas terras.
Daí aquele mundão
d’água e as enchentes.
Um dia desses,
conversei novamente com o Luizão e ele reclamava que estava difícil arrumar
empregados.
Ele contratou
trabalhadores vindos da Bahia e do Piauí, mas em número insuficiente para o
atendimento, a copa e a cozinha. Disse que não encontrava mais trabalhadores
desses estados nem de lugar nenhum.
Na visão dele, faltam
empregados, principalmente sem formação qualificada. Não sei se estamos numa
situação de pleno emprego como ele diz, mas ele reclama da falta de
trabalhadores. Quer contratar e não acha.
Perguntei pra ele dos
nordestinos que vinham para cá sem muitos estudos e que ele empregava em seu
bar. Onde estão eles?
O Luizão matutou um
pouco e falou: “Olha, o Nordeste progrediu muito nos últimos anos, está
faltando mão de obra lá também. Então eles estão voltando pras suas terras”.
Matutou mais um pouco
e concluiu: “É por isso que está faltando chuva aqui. Eles estão lá no Nordeste
e o Padre Cícero está mandando chuva para eles. E para compensar o erro dos
anos anteriores, manda até um pouco da chuva que deveria vir para São Paulo”.
Então, pessoal, o
negócio é pedir chuva pro Padre Cícero. É fácil ir de São Paulo a Juazeiro do
Norte, no sul do Ceará, onde o padre viveu e tem a estátua dele, e é para lá
que os romeiros vão fazer seus pedidos. É possível ir de avião, muito mais
rápido e confortável do que os caminhões que demoram muitas e muitas horas
cheios de gente.
No interior, eram
comuns as procissões até o cruzeiro – uma cruz instalada na parte mais alta da
cidade – com todo mundo carregando latas d’água para molhar o pé da cruz,
pedindo chuvas, não sei se ainda fazem isso. Em São Paulo, políticos e
administradores recorriam aos serviços do Cacique Cobra Coral, pedindo para
chover ou para direcionar as chuvas para os locais certos. Parece que não fazem
mais isso. Coincidência ou não, nunca vi tanta secura por aqui. Seguindo a
teoria do meu amigo Luizão, chegou a hora de recorrer ao Padre Cícero.
Por isso, a sugestão é
uma romaria de moradores de São Paulo para Juazeiro do Norte, pode ser de
avião. Só tem que dar o endereço das represas, para que ele faça chover no
lugar certo. Será que ele vai atender? Para mim, atenda ou não, vale a pena.
Seria bom fazer uma seleção rigorosa de políticos e administradores e mandar um
bando deles para lá. Com passagem só de ida.
* Jornalista
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