Ariano e a Carnaúba
* Por
Woden Madruga
Fim de semana que
passou andei por seus pagos, indo à Fazenda Carnaúba, município de Taperoá, na
Paraíba, onde Ariano despertou para as artes: dramaturgo, romancista, poeta,
ensaísta, artista plástico. Passei pelo terreiro de sua casa, menos de 100
metros dos alpendres do primo Manoel Dantas, Manelito, o anfitrião. Carnaúba
realizava uma grande festa por conta do seu 2º Leilão onde se negociou
bovinos das raças Guzerá, Sindi e Gado Pé Duro (sotaque de português, andar de
piauiense), nove raças nativas de caprinos e sete de ovinos.
Só o empório (de
acordo com o falar de Manelito) dessas cabras e bodes, ovelhas e carneiros, já
é uma festa maior, nada igual por este Nordeste afora. Fantástico o trabalho de
melhoramento genético dessas raças feito em Carnaúba. E é preciso dizer que
tudo isso começou numa parceria de Manelito com Ariano, vaquejando cabras e
ovelhas brasileiras pelos sertões nordestinos. O cenário da Fazenda Carnaúba,
seus currais de pedra, suas baias, seus galpões, seus cercados que vão até ao
pé das serras circundantes, aqui e acolá, as emas cruzando com as ovelhas
Morada Nova e das Cabras Azuis, já acarinha e comove o visitante. Paisagem que
lembra um castelo ibérico erguido em terras pedregosas da Galícia.
Lá estavam criadores e
técnicos (agrônomos, zootecnistas, veterinários) de várias partes do Brasil.
Muitos sotaques, prosas deliciosas, encontros e reencontros de velhos
companheiros. Fazia frio em Taperoá e caia uma chuvinha fininha, peneirando.
Tempo para uma, tantas doses de cachacinha ou três dedos de uísque. Fazia frio,
mas os negócios foram quentes. Preços bons para o gado Sindi, um pouco menos
para o Guzerá, ótimos para as cabras e ovelhas. O resultado deve ter sido do
agrado de Manelito e de seus meninos.
O Dia D da Fazenda não
foi somente de venda de bois, vacas, cabras e ovelhas. Num de seus galpões (pé
direito de três metros) montou-se uma exposição de arte com a pintura de Manoel
Suassuna Dantas, a tapeceira de Ariano e Zélia Suassuna, o artesanato de couro
dos artesãos de Cabaceiras e seus arredores, a feirinha dos famosos queijos e
cremes (leite de cabra) da Carnaúba e as geleias, doces e compotas (mangaba,
umbu-cajá, araçá, manga, pitanga, goiaba, jaca, caju com pimenta rosa,
maracujá, ubaia e eteceteras) fabricadas pela Sobores da Vivenda, tempero
potiguar da Fazenda Vivenda do Vale, que fica em Ceará Mirim, e que pertence ao
casal Fernanda e Gustavo Câmara, agrônomos. Seus produtos fizeram o maior
sucesso. Completando os espaços do grande galpão a cozinha montada por Adriana
Lucena, peagadê em culinária e pimentas. Filas para seus sanduíches e os
pratinhos feitos com carnes de cabrito, cordeiro e de porquinhos meide Piauí
criados na Carnaúba, acompanhados de arroz da terra, batata doce, purê de
jerimum caboco e farofinha.
Foi no galpão que
conversei com o pintor Manoel Suassuna Dantas sobre o seu pai. Ariano retomara
suas aulas-espetáculo, estava concluindo o novo romance e fora convidado para a
Flipipa de agosto. Me presentou com o catálogo da exposição com a qual
inaugurou em agosto de 2011 a sua Oficina Cabeça de Cabro, em Taperoá. No
catálogo tem um texto manuscrito assinado por Ariano e Zélia. Manoel Dantas
divide o tempo de artista entre Recife e Taperoá. Ultimamente executa o projeto
Pelo Caminho Sagrado, seguindo as trilhas de
Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, no Ceará, a Belo
Monte/Canudos, na Bahia. No documentário, Manoel Suassuna Dantas se veste de
Antônio Conselheiro.
Falou ainda de outro
projeto. Documentar os caminhos percorridos por Ariano por vários lugares do
Nordeste, alguns também trilhados pelo avô João Suassuna. No Rio Grande do
Norte lembrava de três lugares: Natal, Mossoró, Lajes e Martins.
Sempre é um encanto
uma ida a Carnaúba.
*
Jornalista e colunista do jornal Tribuna do Norte de Natal/RN
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