Trazendo ausentes para junto de nós
O padre Antonio Vieira – um dos maiores, se não o maior
estilista de língua portuguesa de todos os tempos, além de destacado e notável
pregador – declarou, em um dos seus tantos e inspirados sermões: “O efeito da
memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a
nós, para que estejam conosco”. É com
isso em mente e é tendo este objetivo que, há muito tempo, há mais de quatro
décadas, cultivo um hábito específico: em cada início de janeiro, destino uma
semana inteira à pesquisa das personalidades que completam centenário – ou de
nascimento (na maioria dos casos) ou de morte (uma vez ou outra) – em cada ano. Com esse procedimento, “mato dois
coelhos com uma só cajadada”.
Caso eu conheça os respectivos personagens (na maior parte
dos casos, artistas, e mais especificamente ainda, escritores, embora não
somente estes), consolido o conhecimento que tenho deles. Salvo exceções,
escrevo a seu respeito, após reler suas obras (no caso dos que tenham se
dedicado à Literatura) ou apreciar seus quadros (se pintores), ouvir suas
composições (se compositores) e vai por aí afora. E teço comentários (estritamente
pessoais) a propósito. Com isso, amplio e consolido minha cultura artística,
além de “engordar” minha pauta de crônicas e ensaios a redigir. É certo que nem
sempre me atenho a esse programa informal que é bastante flexível. Mas traço um
roteiro a seguir nos 365 dias que tiver à frente.
Lucro maior, todavia, obtenho caso não conheça as
personalidades pesquisadas. Passo a conhecê-las, ampliando assim, e muito,
minha cultura artística. Em ambos os casos, como acentuou o padre Vieira, trago
estes “ausentes”, que a morte levou, para junto de mim, em um processo em que
as duas partes saem lucrando. Eu, por aprender o que não conhecia (ou
consolidar o que já sabia) e os tais personagens, geralmente esquecidos, também
lucram, pois trago à baila do público seus nomes e seus feitos, impedindo que
permaneçam no esquecimento. Pretensão à parte, sonho que algum dia alguém aja
da mesma forma, em relação a mim. Bem, é verdade que, para ter mínima chance
disso ocorrer, tenho que merecer essa distinção. É o que venho tentando, há
anos, nesta minha acidentada jornada pelas trilhas da Literatura.
Como em 2014, 2013, 2012, 2011, 2010 etc.etc.etc. fiz, neste
início de 2015, minha relação (que, admito, é incompleta por razões que o
leitor pode imaginar com facilidade) das personalidades (com ênfase para
escritores) que completariam cem anos de idade nos próximos meses, caso
estivessem vivos. É grande a probabilidade de escrever a respeito deles, embora
isso vá me exigir muito, muitíssimo trabalho. Antes de fazê-lo terei que ler
seus livros (se escritores), pesquisar suas biografias e, sobretudo, formar
opinião a respeito. Mas o tamanho da tarefa não me assusta. Na verdade, fascina-me.
Sobre alguns, nem precisarei escrever, por já haver escrito
sob outro pretexto, que não seu centenário. É o caso Thomas Merton, poeta,
escritor e religioso francês, que completa cem anos de nascimento em 31 de
janeiro, sobre o qual tratei, não faz muito. Não é o caso do segundo da lista.
Confesso que nada sei a propósito do jornalista e escritor José Jacintho
Pereira Veiga, nascido em 2 de fevereiro de 1915. Espero suprir essa falta de
conhecimento e partilhar com você, paciente leitor, o que apurar a seu
respeito. Sobre o terceiro da minha relação, cujo centenário ocorrerá em 10 de
junho, conheço muita coisa. Li diversos dos seus livros e nem sei por que não
escrevi nada sobre ele. É, no meu entender, um dos tantos injustiçados do Nobel
de Literatura. Refiro-me ao escritor norte-americano Saul Bellow. Está aí
excelente oportunidade de emitir minha opinião sobre este polêmico intelectual.
Para julho, mais especificamente no dia 27, terei que
arregaçar as mangas e pesquisar tudo o que possa a propósito do jornalista, poeta
e historiador Rubens de Mendonça, sobre o qual nada conheço. Farei o possível e
o impossível para resgatar sua memória. Assim como pretendo me empenhar para
esclarecer-me sobre a vida e a obra do acadêmico da ABL,. Dom Marcos Barbosa,
cujo centenário se dará em 12 de setembro. Em outubro, pretendo tratar de três
personagens para mim também desconhecidos, além de outra figura conhecidíssima
dos amantes de Literatura. No primeiro caso refiro-me às escritoras Silvina
Bulrich, argentina (no dia 4) e Marisa Villardefrancos, espanhola (14 de outubro)
e ao membro da ABL, João de Scantinburgo, que apesar do sobrenome, é brasileiro
(31 de outubro). Dezesseis dias antes, ocorre o centenário do tradutor,
filólogo, lexicógrafo, ensaísta e crítico literário Antonio Houaiss. Este (nem
é preciso ressaltar) é conhecidíssimo. Pudera!
Em novembro, três “monstros sagrados” das letras (um
estrangeiro e dois nacionais) completarão cem anos de nascimento. No dia 12,
será o francês Roland Barthes, crítico literário, sociólogo, filósofo e
semiólogo. Três dias depois, será a vez de Bernardo Élis. E no final de
novembro, no dia 27, ocorre o centenário de Adonias Filho, jornalista, crítico,
ensaísta e romancista, expoente da Academia Brasileira de Letras. Finalmente,
em dezembro... terei folga nas pesquisas. Afinal... ninguém é de ferro, não é
mesmo?
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Você se obriga a tarefas árduas, Pedro. Fiquei curiosa, mas cansada só de imaginar. Tenho lido sobre Jose J. Veiga, porque um amigo, Luiz de Aquino, jornalista e escritor de Goiânia e da Academia Goiana de Letras fala muito nele (Cavalinhos de Platiplanto). Escreveu há uma semana uma crônica na qual homenageia este e mais três escritores de Goiás que fazem cem anos, todos mortos. Vou colar o link: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/
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