Que tal um cafezinho?
* Por
Donald Malchitzky
Cercada de reportagens
sobre as tristezas da humanidade - milhões de crianças famintas no Iêmen,
conflitos religiosos na Índia, viciados em heroína em Cabul que viraram atração
turística – uma notícia de Nápoles, na Itália dá um alento de civilidade, de
sopro de esperança pela solidariedade: fala do “café suspenso”.
Não é tão novidade
assim, mas uma revitalização de um costume surgido na cidade durante a Segunda
Guerra Mundial, em que a carência deu origem a um ato de solidariedade anônima:
ao tomar um café na cafeteria – “Uma desculpa para bater papo e contar
histórias”, segundo um frequentador atual – a pessoa que tivesse condições
deixava outro pago para quem não tivesse como pagá-lo. Em tempos bicudos para a
economia italiana, o costume voltou.
Divulgada boca a boca,
possivelmente em muitos intervalos para cafezinho, e pela Internet, a ideia passou a ser usada
em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, e não só para café, mas também
para pizzas, sanduíches e até livros.
Em tempos de egoísmo
glorificado como chave do sucesso – ao menos esse é o resumo de muitos livros
de formação de executivos – ações simples assim parecem fadadas ao fracasso,
mas esta funcionou. Parece que o segredo está justamente na simplicidade em
tocar o coração de quem tem um pouco para compartilhar. Talvez o próprio
anonimato, uma vez que quem recebe nunca saberá quem foi o doador, também seja
um fator decisivo, pois todos estamos cansados da caridade de sorrisos forçados
para aparecer em fotografias que pululam na mídia. Nesse contexto, um suspiro
de caridade desinteressada ajuda a desopilar a alma e o cérebro.
Pizzas distribuídas
aos pobres, livros à disposição de leitores ávidos e sem dinheiro, sanduíches
para quem está com fome ou simplesmente com vontade de comer com prazer, um
cafezinho em bom ambiente, com direito a encostar-se ao balcão, puxar conversa
ou ficar por ali, ouvindo os papos mais diversos e as teorias de salvação do
mundo, pois é nesses ambientes que elas florescem, tudo ao alcance, dependendo
apenas de um pedido, pois o principal já foi feito: resgatar as centelhas de
bondade que ainda carregamos dentro de nós, apesar de tudo.
Vai um cafezinho?
* Escritor
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