O poeta de La Bodeguita Del Medio
* Por
Adair Dittrich
Conhecer Cuba foi a
realização de um sonho há décadas acalentado. Um sonho da época da inocência,
sonho desde quando a ilha era a fantasia, o centro festivo do mundo. Cuba dos
musicais e dos cassinos que atraia a sociedade mundana da época ávida por um faz
de conta sem começo e sem fim. Cuba que inspirou músicos e poetas e era o fundo
encantado de muitas histórias que Hollywood nos contava.
Muita coisa mudou por
lá. Aquele mundo do faz de conta que só trouxe benefícios a magnatas e ao poder
então estabelecido teve seus dias contados e o próprio mundo aplaudiu a sua
queda.
E mudanças muitas
aconteceram. Delas todas todos sabemos. Mas, as mudanças políticas, no
entanto, não expurgaram a alma cubana
que é toda arte, toda poesia, todo um encanto.
Havana poreja arte em
cada esquina, em cada parede, em cada viela.
Na parte velha e
tradicional da cidade encontramos a apaixonante “Bodeguita de Medio”, um bar de
pequenas dimensões onde não se desfruta apenas dos tradicionais coquetéis à
base do famoso “Ron de Cuba”, mas também de um maravilhoso som de flauta,
violino, violoncelo e guitarras acompanhados por canoras vozes que cantam desde
os clássicos boleros de outrora até a contagiante salsa de agora, além de
nossas brasileiras músicas.
Um local pequeno onde
as paredes estão cobertas de mensagens de ilustres personagens do mundo que por
lá passaram, como os escritores Ernest Hemigway e Françoise Sagan que lá
estiveram na década de sessenta.
Ao lado da porta, do
lado de fora, em sua cadeira sentado, em frente a uma clássica e romântica
Olivetti portátil, encontrei o encanto do velho poeta Orlando Laguardia, o
poeta de “La Bodeguita del Medio”. Lá ele passa os dias, divertindo-se ao fazer
versos, poetando em sua pequena e velha máquina de escrever e vivendo da vida
as mais belas páginas.
Garboso e elegante em
sua imaculada calça de linho branco, pergunta-me o nome e vai ali, na pequena e velha máquina,
batendo letras, palavras e frases que, colocadas no papel formam um poema, num
improviso sutil.
E assim o poeta
escreveu:
“Adair
Dittrich llego
con un amor brasilero
por esso escribirle espero
de mis versos lo mejor
una señora hecha flor
una persona gentil
y de manera sutil
por amable dulce y bella
Adair es una estrella
que nos envia Brasil.
Obrigado”.
E o que ele me entrega
se torna um diploma, um certificado de que
eu estive lá, em “La Bodeguita del Medio, Habana Vieja, a velha cidade
de Havana de tanta cultura acumulada em séculos de sangue e histórias.
* Médica e escritora
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