O fenômeno Elvis Presley
O rock, possivelmente, não seria o que foi (e o que é),
nesses quase 60 anos (oficiais) de existência, sem uma figura excepcional,
carismática, que se tornou símbolo, ícone, mito da cultura pop – tanto que quase
38 anos após sua morte, esta ainda é negada por bilhões de fãs ao redor do
mundo que juram que ele ainda está vivo, e de certa forma está mesmo –
consensualmente aceito como seu único e legítimo “rei”. Refiro-me, óbvio, ao
fenômeno Elvis Aaron Presley. Sua vida e trajetória artística são para lá de
conhecidas, dada a existência de milhares de biografias. Portanto, torna-se dispensável,
da minha parte, tratar desse aspecto, dada a impossibilidade, até, de trazer
novidades a propósito. A única coisa original de que posso me valer é a
impressão que ele me causou (e ainda me causa). Afinal, foi dos poucos ídolos
da minha juventude e, como todo adolescente da segunda metade dos anos 50 do
século XX, também procurei imitá-lo, sobretudo na aparência, com seu cabelo
cheio, sempre bem penteado e suas vastas costeletas.
Embora não tenha gravado somente composições de rock, Elvis
foi, sem dúvida, seu grande divulgador. E não apenas em discos, mas em shows,
programas de televisão e em vários filmes que estrelou. Era dotado de uma voz
privilegiadíssima e rara. Tinha alcance vocal muito acima da média.
Especialistas dizem que alcançava notas musicais de dificílimo alcance para
cantores populares. Mas sua característica mais notável, a que ajudou a
torná-lo popular com a velocidade da luz, era sua maneira exótica, extravagante
e peculiar de dançar, o que lhe valeu o apelido de “Elvis The Pelvis”. Foi,
certamente, o que mais chamou a atenção do público e conquistou tantos fãs
desde sua estréia em televisão, nos Estados Unidos, em 1956.
Naquela oportunidade (e foge-me o canal em que isso se deu)
tão logo começou a cantar, com seu vozeirão característico e sua rigorosa
afinação, a composição “Hearthbreak Hotel”, contorcendo-se da cabeça aos pés,
numa demonstração inequívoca de que o então tido e havido como novo ritmo não
era só para se ouvir, mas principalmente para se dançar, e de forma vigorosa e
frenética, a platéia entrou em transe, em delírio, enlouqueceu de entusiasmo. E
mais: milhões de telespectadores norte-americanos, país afora, imitaram-no na
dança, em suas casas. Os telefones da emissora não pararam de tocar, com
milhares e milhares de pessoas querendo saber mais a respeito do artista. Ele
já era relativamente popular no rádio e nos show, limitados e locais, em que se
apresentava. Sua aparição na TV, todavia, foi a consagração. Em questão de
poucos dias, “Hearthbreak Hotel” saltou para o primeiro lugar das principais
paradas de sucesso norte-americanas. Foram vendidas milhares e milhares, na
verdade vários milhões de cópias dessa gravação. O rock estava consagrado, de
vez, na preferência do público.
Há quem considere que, em termos de popularidade, os Beatles
superaram Elvis Presley. Isso pode, até, ter ocorrido no auge do sucesso dos
cabeludos de Liverpool. Todavia, comparando ambas carreiras, o roqueiro norte-americano
é imbatível nesse aspecto. Basta dizer que seus discos e filmes continuam
vendendo em quantidades “macro”, “hiper”, “mega”, ou seja, incalculáveis, mundo
afora, como se ele estivesse vivo e fosse se apresentar amanhã em algum show.
Já os Beatles vão ficando, cada vez mais, à medida que o tempo passa, só na
lembrança de saudosistas de sua geração, quando estavam no auge do sucesso.
Confesso (para admiração de alguns e decepção de outros
tantos dos meus amigos) que nunca fui, propriamente, um “beatlemaníaco”. Não
que não apreciasse o conjunto de Liverpool. Mas este, em momento algum de minha
vida, me empolgou e esteve entre meus preferidos. Já Elvis Presley... continuo
ouvindo suas gravações com o mesmo entusiasmo e idêntica empolgação que tinha
em 1956, quando estava com treze anos de idade e buscava “copiar” sua aparência.
Meu gosto musical evoluiu muito desde então. Sou cultor dos clássicos, de Bach,
Beethoven, Mozart, Bellini, Verdi, Chopin, Carlos Gomes e de centenas de
outros. O rock está longe, muito distante de ser meu ritmo predileto. Mas há uma
exceção, uma única: Elvis Presley.
É certo que vez ou outra ainda ouço gravações de roqueiros
da segunda metade da década de 50 e aprecio. São os casos, por exemplo, do
canadense Paul Anka (“Love letters in the sand”), de Neil Sedaka (“Teenie Weennie
Yellow Polkadot Bikini”), de Little Eddie (“The Frankenstein Rock”), de Pat
Boone e da então menininha Brenda Lee com sua empolgante interpretação de “Jambalaya”
(que somente muitos anos depois vim a saber que se tratava de um prato típico
da culinária de Nova Orleans). Todavia, nenhum desses cantores e nenhuma dessas
gravações me empolgam tanto quanto os rocks interpretados pelo seu eterno “rei””.
Isso tem tudo a ver com minha trajetória de vida, principalmente, com as várias
etapas do meu processo de amadurecimento.
Quando Elvis despontou para o estrelato, eu era adolescente,
de treze anos, cheio de sonhos e de vida e, principalmente, de energia, que
brotava por todos os poros. Os hormônios prevaleciam, pois, sobre os neurônios.
Já os Beatles surgiram na época da minha maturidade. Nesse período, meus gostos
e conhecimentos mudaram, transformaram-se, evoluíram. Foi na ocasião em que já
cursava a universidade e começava a esboçar meus primeiros “rabiscos”
literários, com a pretensão de um dia tornar-me escritor. Hoje, no entanto, já
setentão, ainda sou um dos bilhões de fãs, mundo afora, para os quais “Elvis
não morreu”. Não morrerá jamais!
Boa leitura.
O Editor.
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Adoro rock, mas não fui apaixonada nem por um nem por outro, Elvis e Beatles, mas meus contemporâneos sim. Acho que perdi o bonde.
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