O descaso do Congresso Nacional com a demência de
Bolsonaro
* Por
Raul Longo
Por algum tempo
compreendi esse Jair Bolsonaro apenas como um boçal raro que superasse a
boçalidade de todos os demais do Congresso Nacional. Mais boçal do que o Ônix,
o Carlo Sampaio, o Malafaia, a família ACM, etc., etc., etc… Mais até do que o
Aécio Neves, mesmo no atual estágio de descontrole e alteração de personalidade
daquele, provocada pela incapacidade de admitir uma derrota democrática.
Em Aécio há de se
considerar a interferência de substâncias ativas alheias às produzidas pelo
natural metabolismo psiquiátrico humano, aquelas que em determinadas
circunstâncias controlam ou descontrolam o comportamento de todos nós. Mas no
caso do Bolsonaro qualquer clínico geral reconhece a urgência da necessidade de
observação e tratamento de especialistas.
Não sou nem pretendo
sê-lo, no entanto tanto convivi com amigos notáveis na área que acabei me
interessando pelo assunto e li bastante a respeito. Por sorte, pois do
contrário confundiria a tribuna do Congresso com as paredes de qualquer
banheiro de borracharia de beira de estrada, onde além dos dejetos do trato
intestinal também se acumulam os de psiquismos violentados por condições
sociais ou, em igualmente triste hipótese, por violências sofridas na infância.
É o que, mesmo sem
qualquer especialização ou mais detida análise, pode ser claramente percebido
em Jair Bolsonaro e torna admirável a falta de ética da Comissão de Ética da
Câmera Federal. Mais que falta de ética, é uma total desumanidade que não se
comete com ninguém, por mais corrupto que seja. Não afirmo que Bolsonaro seja
corrupto, mas mesmo que o fosse, apenas por sua condição humana esse pobre
coitado mereceria ser urgentemente encaminhado a um psicólogo que, sem dúvida,
haveria de interná-lo se a legislação ainda prevê-se a reclusão de pacientes
com tais desvios; mas hoje já se compreende que estas providências não
apresentam soluções efetivas, salvaguardando apenas a sociedade da inconsequência
dos doentes que, de toda forma, recolhidos em manicômios ou não, necessitam de
tratamento.
Cabe às pessoas do
relacionamento do sociopata uma providência antes que se constitua em ameaça a
terceiros ou se torne um risco para si mesmo. E o deputado já tem se comprovado
séria ameaça pública há bastante tempo. Tanto que a irresponsabilidade de seus
pares no Congresso Nacional vem se tornando ainda mais alarmante do que os
próprios sintomas do doente.
Há no caso um aspecto
ridículo que estimula ao humor negro, mas o assunto é perceptivelmente sério e,
além de potencializado pela posição de Bolsonaro perante a sociedade
brasileira, há muito deixou de ser mera ameaça para se concretizar publicamente
como ocorreu na difamação e agressão verbal empregada contra a Preta Gil.
Também na violência física contra o senador Randolfe Rodrigues e nas reiteradas
ofensas dirigidas contra a deputada Maria do Rosário, passíveis de penalidades
prescritas até na Lei Maria da Penha, quanto mais nas que regem o decoro
parlamentar! Isso sem contar que as ameaças do deputado ultrapassam a previsão
dessas leis e o identificam aos praticantes de crimes hediondos.
O que acontece com o
Congresso Brasileiro que não é capaz de perceber o perigo contido nas ameaças
de Bolsonaro? Já testemunhei a Polícia Civil advertir e restringir a circulação
de psicopatas bem menos ameaçadores! Como o Congresso Nacional pode se manter
passivo e leniente a tão reiteradas e evidentes manifestações de sociopatia?
Manifesta como
permanente ameaça social, se a distingue pela origem direta ou indireta tal
como publicamente se expos na arma na cintura do filho do deputado em meio à
multidão de comício realizado na Avenida Paulista. Ali ficou claramente
indicado que para segurança da sociedade, toda a família necessita urgentemente
de tratamento ou trabalho de socialização.
Qualquer observador dos
desdobramentos de distúrbios mentais sabe que tais anomalias são, sim,
transmissíveis através de convívio com portadores de psicopatias. Daí até
possível entender os motivos dos correligionários de Bolsonaro em manter sua
filiação partidária; mas o Congresso Nacional não é formado apenas por coo
partidários e aliados do doente. Entre as principais atribuições dos políticos
do Congresso, ou de qualquer entidade pública, também está à preservação da
segurança da população, daqueles que o elegeram como seus representantes.
Se, infelizmente,
ocorre um surto de psicopatia em determinados segmentos de uma sociedade e
certa quantidade de afetados é suficiente para eleger um também alienado, isso
não quer dizer que estes segmentos estejam representados. Grupos como skin-heads
e revoltados online ou quaisquer outros de homofóbicos e misóginos de
orientação fascista, são inconsequentes incapazes de realmente definir uma
representação. A esses doentes apenas cabe a ação da segurança pública até para
a segurança deles mesmos. Dizer que Bolsonaro os representa é o mesmo que
admitir que alguém possa representar os interesses dos Hell Angels no Congresso
dos Estados Unidos. Qual é o interesse desses tarados, além de espancar e
estuprar a quem considerem que mereça, exatamente como assumido pelo deputado
em sessão plenária, exigindo aos berros que sua colega escutasse suas
grosserias e ameaças?.
Uma coisa é um radical
político/ideológico ou religioso, outra coisa é o desvio de caráter de um
oportunista. E bem outra é um sociopata a usar de cargo público para fazer
apologia à intolerância e a exemplificar em si mesmo práticas de crimes
hediondos. Se não se impede isso, daí à barbárie é um nada! E se o Congresso a
admite é porque já foi instaurada.
Seja contra
homossexuais ou contra as mulheres, somos um dos países do mundo onde mais se
cometem crimes motivados por tais preconceitos e é inadmissível que o Congresso
Nacional abrigue um sociopata que pela própria inconsequência usa do cargo que
ocupa como apologista de tais crimes.
De acordo com a teoria
psicanalítica o id é a fonte da energia psíquica formada por instintos
naturais, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. “O id não faz planos, não
espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e
não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade, e uma satisfação na
fantasia pode ter o mesmo efeito de atingir o objetivo através de uma ação
concreta. O id desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo
exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial, egoísta e dirigido ao
prazer.”
A descrição corresponde
a diversos correligionários e aliados políticos de Jair Bolsonaro, mas à mostra
ou escondida, na arma do seu filho se evidencia a formulação de um plano para
alguma imaginada eventualidade. Se “tal pai, tal filho” o que mais se questiona
é sobre a próxima solução a ser encontrada pelo sociopata depois da agressão
verbal a filha de Gilberto Gil, através de um programa de TV? Ou depois da
agressão física ao senador que manifestava repúdio a um regime político
sobejamente repudiado por todo o mundo civilizado?
Será necessário que se
consuma a ameaça de estupro berrada do púlpito do parlamento? Que parlamento é
esse? Imagens de políticos se agredindo fisicamente em meio a sessões
parlamentares já envergonharam alguns povos do mundo, mas a manifestação
pública da disfunção psicológica de um representante do povo, é de envergonhar
a todos os brasileiros perante a comunidade das nações.
Vergonha não pelo
deputado acometido de sério desvio psicológico a pôr em risco toda a sociedade,
mas sobretudo pelo Congresso que admite tais manifestações só compreensíveis
quando em paredes dos imundos banheiros de borracharia de beira de estrada.
Sem qualquer tentativa
de humor ou ironia, em Bolsonaro um psicanalista concluiria sexualidade
indefinida por forte repressão moral do id, evidenciada tanto na intolerância a
gêneros e tendências sexuais de outros, quanto na extrema necessidade de
comprovação da orientação da própria libido manifesta na assumida possibilidade
de cometer e já haver cometido estupros. Isso é demência e se aos políticos não
se pode exigir especialidades de conhecimentos que levem a tal conclusão, a
própria função exige ao menos a percepção de evidências das latentes ameaças
sociais constante e assumidamente expressas pelo já incapaz da medir as
consequências do que fala.
Apenas do que fala? A
arma na cintura do filho durante manifestação pública é mais do que uma fala, e
o que será preciso para que se tome alguma providência coerente e definitiva?
Que Bolsonaro abaixe as calças e estupre o presidente da Comissão de Ética do
Congresso em cima do púlpito do parlamento brasileiro?
Por mais deficiente que
tenha sido a educação e formação da fase infantil e da adolescência de
Bolsonaro, ele não é apenas um boçal como muitos de seus correligionários. Bem
além daqueles, Bolsonaro é uma evidente e perceptível ameaça a si mesmo e a
qualquer sociedade que se pretenda civilizada.
Inadmissível que o
Congresso Nacional não se aperceba nem tome providências a esse respeito.
Inadmissível pela falta de responsabilidade com a cidadania brasileira e
inadmissível pela falta de humanidade com o próprio Bolsonaro. Se fosse apenas
um consumidor de drogas, ainda vai, mas trata-se de avançado estágio de doença
à qual a omissão e falta de sensibilidade do Congresso é desumana.
*Raul
Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do
“Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.
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