Pássaro sem canto
* Por
Celeste Fontana
No assalto dos vôos noturnos
Em mim pousa o pássaro sem canto
Mudo, soturno e triste
Que de aflição e dor me desventura
Me fere e me anuncia
Ausência espelhada em brumas
Nesta hora úmida, negra
Quase sombria
Invadem meu coração e olhos
Cores e formas desmedidas
Céu negro, sombras
Turvo mar
Luz pálida,chama extinta
Qual mortalha tecida em dor
Prenúncio abismal da angústia
Oh! Pássaro sem asas! Filho da agonia!
Que em mim pousas e enfermizas!
Até que sobre meu peito ferido
Queimem fagulhas de gelo
Me consumam e me destruam
Labirinto escuro, estreito
Estalagem da loucura
Até que a opacidade da ausência
Tragada na vastidão do mar
Se contamine de resíduos dos náufragos
Dos faróis em fogo ou dementes
Das vidas e mortes vividas
De instantes ameaçados
E se canse!
Oh! Pássaro sem canto! Filho da angústia!
Que o amor dilaceras, castigas!
Horas lentas, escuras
Caladas
Lamentam e choram
Escorrem
Nas correntezas do absurdo
Na impossibilidade do concreto
Na turbulência poética
Calam agora no coração e boca
Versos outrora fáceis, leves, fluidos
Tornados ruínas, escombros, sumidiços
Sangrar flui mais leve do que amar
*
Poetisa
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